A eleição atual perdeu o atrativo pelo que devíamos esperar dela. O grande instrumento da democracia banalizou-se nas mãos de candidatos interessados só no superficial. Não há partidos políticos com posições definidas, mas gente que se junta em busca de votos a esmo.
Mas a disputa atrai. Adivinhar o vencedor, em parte já nos faz "vencedores". O voto cria expectativas, como num sorteio ou numa alheia luta de boxe.
Dois outros erros, porém, desvirtuam ainda mais nossa democracia. O primeiro é a obscena distribuição do "horário eleitoral gratuito" no rádio e TV. Na forma atual, impede (ou dificulta) a renovação dos governantes. Os que estão no governo recebem amplos espaços, seguidos pelos que, antes deles, alguma vez também se lambuzaram no poder. É o caso do MDB, PDT, PT e PSDB na área estadual.
Assim, os mesmos se sucedem aos mesmos, uns aos outros entre si (e contra os demais), num rodízio de mesmice.
Rádio e TV nos acompanham no lar, no trabalho, no carro ou à rua, pelo celular, mas se depender do espaço eleitoral, as novas propostas não chegam ao eleitor. Ou alguém crê que (em ínfimos segundos que concluem já ao começar) Roberto Robaina, candidato a governador pelo PSOL, ou Mateus Bandeira, do Novo, podem expor ideias ou planos?
Só nos debates, quando todos se igualam no tempo, ambos podem apresentar ideias antagônicas, novas e articuladas. Fora disto, tudo é chocante: a democracia abandona o igualitário direito de expor e (na TV e rádio) vira oligarquia dos que se alternam no "direito ao poder".
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O segundo erro vem dos meios de comunicação, ou de todos nós, jornalistas. Tentamos nos antecipar ao voto e, na ânsia da "primeira mão", indicar o resultado antes da própria eleição. As "pesquisas", em que alguns poucos (uns 2 ou 3 mil) apontam quem pode ganhar, não serão tão absurdas quanto a velha fraude?
Não se toca no passado dos candidatos, nos atributos ou experiências que podem fazê-los os preferidos. Não se mencionam os projetos, nem se distingue quem tenha base concreta e sólida, daqueles outros, mirabolantes demagogos com promessas vãs ou ódio fanático. Em vez de abordar as virtudes e os defeitos de cada um, fazendo das qualidades o verdadeiro guia, optamos pela aparente quantidade de votos a obter.
Em que isto ajuda a discernir pelo melhor?
Por que transformar a eleição em corrida de cavalos no hipódromo, em que se aposta no aparente "favorito", mesmo que com ele, no máximo, se receba uma esmola de consolação?