O terremoto no México mostra como ignoramos nosso planeta. E como ele é jovem: o que tem efeito de catástrofe é simples acomodação de placas ainda em formação. A Terra é uma criança de bilhões de anos e os desastres são como quedas de adolescentes que desafiam o amanhã como adultos.
O horror dos terremotos é inevitável na vida do planeta, fora de nossa resolução. Mas e os "terremotos" que nós produzimos? A devastação da natureza, a degradação e poluição de terra, ar e águas? O que é a transformação do ser humano em robô idiotizado, que se envenena com agrotóxicos e transgênicos? Ou que perde até o paladar com alimentos industrializados, elaborados a partir do petróleo?
O que é nosso sedentarismo, senão terremoto pessoal? Usamos esteiras e "academias" com ar artificial, em vez de caminhar ao ar livre e puro. Ou já não há ar assim?
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Nenhum desses terremotos existiria se outra fosse a mentalidade e a ação dos donos do poder, se a mesquinhez, o engodo, a mentira e o roubo despudorado não comandassem os políticos e os empresários que se servem da política. Ou se o engano não se disfarçasse de ingênuo e não fosse uma marca do dia a dia na área pública e privada.
Entre nós, porém, esse horror se cultiva como flor em jardim. Agora, chegamos ao clímax. Pela segunda vez, a Procuradoria-Geral da República denuncia o presidente da República e seu círculo íntimo por formarem uma organização destinada ao crime, com Padilha e Moreira Franco à frente. De novo o Supremo Tribunal admite a denúncia e quer aprofundá-la, pois está em jogo a honra da nação. E a nação somos nós.
Mas, como surdos e cegos soldadinhos de chumbo, os deputados da base alugada de Temer se preparam para impedir que a Justiça investigue o horror. Nem sequer receberam e leram a denúncia, mas já adivinham que é "perseguição" do antigo procurador Janot...
Outa vez, o dinheiro de todos (como nas quermesses) se transforma em benesses?
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Não nos surpreenda, pois, que o general Antônio Mourão sugira "intervenção" como aspirina para o câncer, que só agrava a enfermidade. Repete a ilusão de outro Mourão, o de 1964, que se rebelou pela "democracia" e, logo, viu que o golpe tinha assassinado as liberdades da democracia e implantado o terror e o medo.
Hoje, a desfaçatez dos políticos de olho no assalto não pode seguir travestida de política. Ou, como disse o general Sérgio Etchegoyen, "confundir a crise com a negação da política, aí, sim, é o caminho do golpe".
Ou do grande terremoto!