Há muito tempo, artistas e outros profissionais de teatro, dança e circo se perguntam como atrair mais público para os espetáculos gaúchos. Há uma percepção, por parte de alguns, de que o número de espectadores esteja minguando geração a geração. Será que é uma percepção correta? Para pensar a questão, há que se conhecer antes quem é, afinal, o público das produções locais. Não é uma tarefa trivial. Há muitas ideias pré-concebidas e relativamente poucos dados.
Agora, uma pesquisa que ouviu espectadores na entrada de espetáculos gaúchos ainda em 2016 acaba de divulgar seus resultados. Mesmo quatro anos depois e com uma amostra de 144 entrevistados – limitação devida ao caráter independente do levantamento –, são números que merecem consideração.
A iniciativa é do Projeto Abduzidos, idealizado pela atriz e produtora cultural Debi Mayer e pelo ator Douglas Oliveira, com ajuda de Kemi Oshiro e Tiago Maier Labes. Eles estiveram em 14 espetáculos de teatro e dança em cartaz entre setembro e novembro de 2016, alguns dentro do festival Porto Alegre em Cena e outros da programação usual da Capital.
O primeiro dado que chama a atenção é que apenas 22% dos espectadores entrevistados se disseram profissionais do meio artístico. O dado surpreende porque, como os artistas se conhecem e se encontram nas filas, esperava-se que a amostra refletisse uma predominância de pessoas do meio. Professores eram 13,73% dos entrevistados, seguidos por atores (11,76%) e estudantes (11,11%). Na mesma linha, 58% das pessoas ouvidas não conheciam ninguém da equipe artística da peça.
A faixa etária dos espectadores se destaca pela variedade: 19% entre 31 e 35 anos, 13% entre 26 e 30 e outros 13% entre 41 e 45. Boa parte (49%) morava na região central de Porto Alegre – porcentagem que inclui 15% que moravam no bairro Bom Fim, 13% no Centro e 12% no Floresta. Em matéria de escolaridade, mais de 60% dos espectadores entrevistados tinham pelo menos Ensino Superior completo – alguns destes, com pós-graduação.
Uma das maiores interrogações do meio artístico é como os espectadores ficam sabendo das atrações. Essa informação é valiosa porque permite traçar estratégias de divulgação mais eficazes. Confirmando uma percepção de muitos, o tradicional boca a boca ainda vale: 33% ficaram sabendo do espetáculo desta forma. A maior porcentagem, de 38%, foi de pessoas que ficaram sabendo por outros meios, como a programação do Porto Alegre em Cena. A pesquisa completa pode ser acessada em gzh.rs/abduzidos.