Quando foi que tudo isso começou? Será que foi quando inventaram os rótulos "petralha" e "coxinha"? Ou quando as pessoas começaram a se esconder atrás do computador pra xingar muito no Twitter e no Facebook? Vai saber. Se alguém dissesse que um dia seria arriscado vestir seu bebê com uma roupinha vermelha, ninguém teria acreditado. É hora de dizer: calma, gente! O pessoal tá mucho loco.
Já fomos mais tolerantes, estamos regredindo. Não dá mais pra falar de política nos almoços em família. Tem amigos se estranhando. Tudo bem desfazer amizades no Facebook, pois nem todo mundo é realmente amigo lá, mas amigo de verdade, aquele do peito, convenhamos, tem que ser preservado. Aposto que conseguimos.
O discurso de ódio provoca mais ódio. Basta ver os tumultos que ocorrem frequentemente nos eventos da candidatura do Donald Trump nos EUA. É hora de ser radicalmente moderado. Adorei um artigo do professor da USP Pablo Ortellado argumentando ("argumentando", veja só!) que as posições independentes estão sendo tragadas para os dois polos de debate: quer dizer, se você faz alguma ressalva sobre a legalidade da divulgação dos grampos de Lula, você está defendendo "bandido"; se critica a corrupção no governo, está sendo "golpista".
Note que não estou aqui defendendo uma suposta imparcialidade na população. Cada um assuma as suas posições aí. Mas a sensatez não pode ser afastada do debate. Não vale tudo para tirar o governo do poder, nem para mantê-lo lá. Democracia é isso aí: você não pode se valer de qualquer meio para atingir seus objetivos, deve respeitar as regras. O Estado de Direito está mais próximo de um jogo de tabuleiro que exige raciocínio e serenidade do que de um game em primeira pessoa no qual você deve eliminar os inimigos adoidado.
Sei que você não pode perder nem um minuto porque daqui a pouco já vai sair uma reviravolta no noticiário, mas vamos arranjar um tempinho para ler sobre história, filosofia, ciência política. Vamos testar nossas certezas. Quem sabe ouvir realmente o que o outro tem para dizer. Quem sabe concordar, quem sabe discordar polidamente. Não importa se você é a favor ou contra o impeachment. Sejamos, acima de tudo, elegantes.