Em fevereiro, o ex-ministro do Supremo, Ricardo Lewandowski, assume o posto de ministro da Justiça, sucedendo a Flávio Dino, que cruza em sentido contrário a porta-giratória do regime STF-Lula para ocupar uma cadeira entre os 11 ministros da Corte. Ambos se sentirão em casa, pois, embora venham a ocupar posições em poderes que, pela Constituição, deveriam ser independentes, Dino e Lewandowski, um no primeiro escalão do Executivo e outro na alta cúpula do Judiciário, farão parte do mesmo time de Lula, engrossando a geleia institucional que faz do Brasil uma república fake. E uma “democracia” de gabinete, na qual o único poder que manda, de fato, não tem votos.
Você não verá na lista eleitoral o nome de um dos 11 ministros do STF. Mas, como vimos na história recente do país, ninguém sobe ao poder ou sequer disputa uma eleição importante se não atender ao paladar da Corte, mesmo acumulando capital político de centenas de milhares ou, mesmo, de milhões de votos. O STF, por meio de seu apêndice eleitoral, o TSE, valida ou anula candidaturas e mandatos e abre ou fecha as comportas da liberdade de expressão com base em cálculos políticos muito claros para quem acompanha as entrevistas e manifestações de boa parte de seus membros.
Enfim, é um árbitro que participa do jogo e decidiu tomar lado, abertamente – vide a manifestação do atual presidente da Corte, Luís Roberto Barroso, que em um evento da esquerda estudantil bradou, como em um palanque: “Nós derrotamos o bolsonarismo”. Foi o mesmo que cunhou o dito “perdeu mané, não amola!” quando foi abordado em Nova York por um brasileiro que queria saber se ele deixaria o código-fonte das urnas eletrônicas “ser exposto”.
Ministros do STF são assíduos em eventos e convescotes promovidos no Exterior por casas de lobby. Num deles, Gilmar Mendes deixou para lá qualquer prurido ou sutileza.
– Se hoje temos a eleição do presidente Lula, isso se deveu a uma decisão do STF. É preciso reconhecer isso – gabou-se ele.
Lula reconhece, claro, e segue pagando em dia a fatura do poder que o tirou da prisão e o colocou na presidência da República, a valer o que Mendes, o decano da Corte, declarou. Lula aceita o papel de sócio colaboracionista do poder que lhe dá governabilidade e que tem o condão de decidir quem pode e quem não pode confrontá-lo nas urnas – nada tão diferente do que vemos na suprema corte bolivariana de Nicolás Maduro e em outras ditaduras que contam com a simpatia do PT, partido que indicou sete dos 11 integrantes do Supremo brasileiro.
É um quadro sombrio, porque blinda o grupo político ora dominante e obstrui os canais de oposição – que, pelos resultados oficiais da última eleição presidencial, têm o endosso de quase 60 milhões de brasileiros, pelo menos.
O contingente é significativamente maior se considerados todos aqueles que não votaram no atual presidente ou que se abstiveram. Ignorar e, pior, perseguir vozes conservadoras, por meio de um consórcio de poder que mistura palanque e toga, é um desatino monumental que só conduzirá, mais dia, menos dia, a uma convulsão social.