Vem aí, incauto leitor, uma nova moeda. Desta vez, sem corte de zeros, como no passado. Trata-se do Drex, nome que o Banco Central deu para a moeda digital que está sendo criada. O real, dinheiro físico, continuará existindo (não por muito tempo, suspeito), e sua cotação será paritária com o equivalente eletrônico: 1 real, no seu bolso, será 1 Drex. Se isto é novidade para você, informe-se — não tanto pelo noticiário, até aqui escasso e oficialista, mas por seu próprio esforço de pesquisa. Quem sabe você descobrirá algo menos cândido do que as vantagens alardeadas pelos entusiastas do Drex, como maior segurança para comprar ou vender um carro.
O Banco Central, inicialmente surdo diante de receios manifestados sobre o açodamento na implantação do Drex, se viu obrigado a reconhecer que os testes até aqui falharam no quesito 'preservação da privacidade dos cidadãos'
Algumas vozes conservadoras, as mesmas que deram boas-vindas ao Pix, têm agora um pé atrás com o Drex, porque vislumbram, com razão, o risco enorme de que o cidadão fique exposto, eletronicamente, ao avanço do Estado sobre suas economias convertidas em moeda digital, ou, ainda, ao controle de seus hábitos de consumo, em tempos de histeria ESG (se não sabe o que é, informe-se).
Delírio? Nem tanto. Eu também teria julgado delirante quem acaso previsse que a Constituição brasileira seria tornada letra morta, e que o golpismo não vestiria farda, e sim toga.
O Banco Central, inicialmente surdo diante de receios manifestados sobre o açodamento na implantação do Drex, se viu obrigado a reconhecer que os testes até aqui falharam no quesito “preservação da privacidade dos cidadãos”. E empurrou de 2024 para 2025 a entrada em vigor da moeda digital brasileira. Aliviado? Eu não ficaria. O ataque a direitos e garantias constitucionais segue de vento em popa, com as bênçãos do STF. Há pouco, em setembro, a corte decidiu, por seis votos a cinco, que bancos e fintechs têm obrigação de entregar dados de transações que você faz, no Pix ou via cartões, ao Fisco — vale dizer, a grupos políticos no poder. Parece uma violação do sigilo bancário de todos nós. E é, evidentemente que é.
Saudade de quando tínhamos uma Corte constitucional digna deste nome.