A gente humilde de cadeiras na calçada, como diria aquele Chico que tanto admirei um dia, deu a Donald Trump uma vitória que, de tão impactante, há de mover as placas tectônicas da política no Ocidente. O beautiful people — pretensas celebridades e intelectuais pretensos — perdeu por nocaute, arrastando para a lona a imprensa, esta instituição que há tempos vem incorrendo no mesmo erro de esquecer, negligenciar e até mesmo desprezar o cidadão sem posses, mas altivo na defesa de seus princípios e em sua gana de vencer pelo trabalho, e não por benesses do poder político.
Trump e Musk enfrentarão titãs como Gates e Soros — que também são bilionários, embora os jornais não gostem de se referir a eles assim
Trump e Elon Musk, dois bilionários, como dizem os jornais, tratarão agora de desmontar, ou ao menos enfraquecer, um aparato de censura e controle social que une correntes autoritárias da academia, do aparelho judicial e de setores da imprensa que, hoje, são indistinguíveis de empresas de lobby — ressalva feita a profissionais judiciosos que atuam nas redações, infelizmente com pouca margem, até aqui, para recalcular a rota de seus veículos.
Trump e Musk enfrentarão titãs como Gates e Soros — que também são bilionários, embora os jornais não gostem de se referir a eles assim.
Estou esperançoso. Talvez se esteja inaugurando uma era em que o indivíduo recobre forças para impor limites à sanha de governos. A liberdade agoniza, mas ainda vive. Temos uma chance.
Sim, eu sei que, no Brasil, as comportas que contêm as águas da transformação cívica estão fechadas porque o voto popular, este instrumento de revoluções pacíficas, está sendo tornado irrelevante pelo complexo STF/TSE, que decide quem pode concorrer; e, dentre quem concorre, quem pode vencer; e, dentre quem vence, quem pode governar sem obstrução da Corte; e, dentre quem pode completar o mandato, quem pode deixar o palácio sem um alvo pintado nas costas pelos reais donos do poder. Eu sei, caros leitores, eu sei.
Mas lembro que está chovendo na cabeceira do rio. E as águas, convém lembrar, são ou podem ser indomáveis se não tratarmos de dar livre curso a elas.