Em 2016, a ministra Carmem Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, produziu uma frase sob medida para os holofotes da imprensa. “O cala-boca já morreu”, bradou ela para enaltecer o valor de uma imprensa livre. Há alguns dias, uma acabrunhada figura, que em nada lembra a altivez da Carmem Lúcia de seis anos atrás, personificou a melancólica decadência da Justiça brasileira. Estava em apreciação no Tribunal Superior Eleitoral a desmonetização do canal da produtora Brasil Paralelo. A pauta incluía um tópico ainda mais sensível: ratificar ou não uma decisão de suspender o lançamento do documentário Quem Mandou Matar Jair Bolsonaro. A decisão pela censura prévia do documentário havia partido do ministro Benedito Gonçalves, aquele em cujas bochechas Lula pespegou seis palmadinhas em recente evento. No momento de proferir seu voto, Carmem Lúcia tartamudeou um emaranhado de palavras que não formavam um conjunto lógico, inteligível. O voto se arrastou entre reticências, parênteses, ressalvas e veja-bem, até que, envergonhada, ela decidiu o que talvez se possa traduzir como “sim, proibir um documentário sem conhecer seu conteúdo é censura prévia, mas autorizemos em caráter excepcional, só desta vez”.
Artigo
Opinião
A agonia da Justiça no Brasil
O brasileiro que foi às urnas no primeiro turno deu um passo importante para equilibrar a balança da Justiça e sanear a democracia
Eugênio Esber