O que leva o homem mais rico do mundo a comprar uma rede social? A resposta a esta pergunta não é simples, porque vários fatores, com maior ou menor peso, contribuíram para instalar na mente de Elon Musk a obsessão por adquirir o controle do Twitter. A transação concluída na semana que passou significa para Musk o desembolso de US$ 44 bilhões. É isso mesmo que você leu, bilhões. Uma exorbitância, na opinião de diversos analistas, que levantam sobrancelhas ante vários aspectos do negócio. Há retorno plausível para um investimento tão desproporcionalmente elevado? Será um capricho, meramente? Uma extravagância, mais uma, do homem que está que à frente de uma empresa de exploração espacial, a Space-X, com planos de levar terráqueos dispostos a colonizar Marte?
Além de combinar um cérebro prodigioso com um esfomeado ímpeto empreendedor, há duas características que se salientam na trajetória do sul-africano que, ainda rapaz, emigrou para os Estados Unidos. Uma é o pragmatismo. Não chegou à fortuna pessoal de mais de US$ 260 bilhões torrando dinheiro de maneira fútil ou inconsequente. A sua Tesla é a maior fabricante de veículos elétricos do mundo e hoje alcança um valor de mercado superior ao de GM e Ford juntas. A segunda faceta dele é o desassombro. No momento, toca uma empresa chamada Neuralink, que pesquisa a conexão possível entre seu cérebro – o seu, caro leitor – e um chip de computador. Está assustado? Elon Musk, pelo jeito, não. Ele parece ver algo além da gente.
Voltemos ao Twitter e ao que poderia justificar a babilônia de dinheiro que a “Personalidade do Ano” da revista Time colocou na rede do passarinho azul. Seria reducionismo dizer que agiu por despeito. Como se sabe, ele teve problemas no Twitter com a “moderação”, em muitos casos um rótulo elegante para “censura”. Vimos esse padrão durante a pandemia e mesmo agora, com a crescente interdição do livre debate nas redes sociais e a sufocação de jornalistas, pesquisadores e veículos de comunicação que tenham perguntas consideradas incômodas ou inoportunas sobre covid ou, no caso brasileiro, vulnerabilidade do sistema eleitoral.
A declaração de Elon Musk no sentido de transformar o Twitter no território da liberdade de expressão devolve esperança a quem anda desencantado com a vaga autoritária de cerceamentos, bloqueios, cancelamentos e desmonetizações. Quem sabe as redes sociais, Twitter à frente, voltem a se parecer com a grande “praça pública” a que se referiu Musk?
Antes que tamanha ingenuidade faça seu Orwell despencar da estante, devo dizer que, sim, tenho ao menos uma razão objetiva para acreditar que sobreviveremos ao Grande Irmão. Se Musk cumprir o prometido e não ceder às tentativas de controle do tirânico Ministério da Verdade, exercerá um papel fundamental ao colocar em teste, no mercado global, o potencial de valorização de um ativo que anda em baixa, mas sempre foi o grande propulsor da jornada humana.
A liberdade.
Voa, passarinho azul.