Há mais de três décadas, a educação brasileira é repasto para discursos estridentes, mas rasos, sobre o país que queremos e precisamos construir nas décadas seguintes. De um modo geral, as abordagens que ganham o debate público são aquelas de proveito político-eleitoral, como a desta semana, que culminou na saída do ministro – e lá se vão para o fim da fila, outra vez, as questões que realmente deveriam mobilizar a todos que pretendem legar a seus filhos e netos um país melhor. A primeira delas é: por que existir um Ministério da Educação?
Pode-se alegar que, ora bolas, outros países têm, mas e o que dizer de nações bem-sucedidas que não precisaram criar um mastodonte burocrático federal semelhante ao que temos no MEC? Algum nível de coordenação sempre será necessário, claro, ainda mais em uma república com as dimensões do Brasil, mas a própria circunstância de sermos um país com contrastes regionais recomenda, a meu ver, uma abordagem descentralizada, aderente às realidades locais e a suas demandas específicas de ensino.
O peso excessivo do MEC, com sua estrutura de quase 380 mil servidores, acabou levando o país a um paradoxo. O grande desafio brasileiro está no Ensino Básico e Fundamental, mas a maior parte do orçamento do MEC está voltado ao Ensino Superior. É uma equação que não faz sentido porque condena boa parte das crianças e dos jovens brasileiros a um desempenho ridículo nos certames internacionais, ocupando os últimos lugares em provas que avaliam conhecimentos em matemática e interpretação de texto.
Não surpreende, assim, que muitos jovens cheguem à universidade com dificuldades de compreensão e de raciocínio lógico. Pesquisas que medem os índices de analfabetismo funcional têm colocado, nessa categoria, um terço dos brasileiros. Como esperar ascensão social e econômica nesse contexto? Que chances estamos dando a jovens que frequentam nossas escolas públicas de fazer uma carreira, prosperar na vida, dar um basta no mapa da desigualdade social brasileira?
Já em 2004, o economista Gustavo Ioschpe publicava um livro essencial, A Ignorância Custa um Mundo, no qual, servindo-se de estudos internacionais aplicáveis à realidade brasileira, demonstrava quão urgente era a revisão profunda e corajosa do modelo educacional brasileiro. Entre várias outras constatações, ao comparar o Brasil a países da OCDE Ioschpe fulminou a crença – que alimenta o discurso oco de políticos e de grande parte de nossa intelligentsia – de que o Brasil investe pouco em educação. Nosso problema não é investir pouco, é investir mal, muito mal, e estabelecer as prioridades erradas. Erradas sob a perspectiva de necessidades dos brasileirinhos mais humildes, que não é a mesma dos sindicatos e outros grupos de interesse que se nutrem de um Estado imenso, cartorial e tentacular.
O modelo atual, e que vem de décadas, precisa ser revisto. Um MEC gigantesco e centralizador – bigMEC – não nutrirá de modo saudável o intelecto de nossas crianças e jovens.