Sendo depois de amanhã Dia das Mães, aproveito o ensejo para escrever sobre uma de minhas filhas – não só pela óbvia relação entre uma coisa e outra, mas por certa conexão específica.
Em 2007, quando Lízia tinha 11 anos, ela estava, como boa parte dos adolescentes do Ocidente, ligada em Harry Potter (a fase passou rápido, e cedo ela foi ler Lolita, de Nabokov, uma precocidade, aliás, um tanto inapropriada). Mas o fato é que, tão logo um novo volume das aventuras do dito “bruxinho” foi lançado em Londres, alguém lhe mandou o livro. E quando o jornal O Estado de S. Paulo soube que ela já havia lido, telefonou para saber o que tinha achado da história. O repórter também indagou desde quando ela lia em inglês, e nós a ouvimos dizer:
– Ah, gosto de ler sempre no original. Tradução é que nem salsicha: vai de tudo ali dentro…
Diante da pauta inescapável, o repórter quis saber por que ela achava aquilo.
– Ora, o tradutor fica horas diante da tela dizendo: “Que raio de palavra eu ponho aqui?”; daí se irrita, desiste e diz: “Ah, vai essa mesmo”.
Pano rápido, risos constrangidos – afinal, tanto o pai quanto a mãe da criança são tradutores. Mas nada como o tempo para domar a jactância. Faz cerca de dois meses, Lízia traduziu seu primeiro livro – uma pequena joia que a editora Piu acaba de lançar: Como as mamães amam seus bebês.
A narrativa de Juniper Fitzgerald é uma delicada prosa poética sobre como as mamães usam seus corpos para trabalhar e cuidar de seus bebês. Há mães de todos os tipos e que exercem os mais variados ofícios: de aviadoras a agricultoras, de executivas a dançarina de boate – essa última, aliás, era a profissão da autora do livro. Além do texto, as ilustrações de Elise Peterson são lindas e sei que você já está louco para dar o livro a sua mamãe top, pop e bop.
Ah, sim, e devo dizer que foi um prazer ver Lízia sofrendo em busca da fugidia palavra exata e tendo a noção do quão exigente é o job que a mãe dela enfrenta para que a filha (e os demais leitores) possa usufruir plenamente de seu amor pelos livros. Moral da história: não desdenhe do trabalho de sua mamãe antes de ousar reprisá-lo!
Feliz dia das mães trabalhadoras do mundo. Uni-vos!