As Forças Armadas brasileiras já endureceram várias vezes – contra uma nação inteira, o Paraguai, no caso: contra os desvalidos de Canudos (BA) e do Contestado (SC) e até contra toninhas, na Batalha das Toninhas, em pleno oceano Atlântico, em fins de 1918, sem falar, é claro, nas vezes em que rasgaram a Constituição torturando e matando durante as ditaduras de 1937 e 1964. Agora, ao que tudo indica, as ditas Forças querem endurecer de novo – só que recorrendo a estímulos extracampo. Espero que se caso consigam enrijecer, dessa vez ao menos não percam a ternura...
A pilheria é incontornável: as Forças Armadas adquiriram 35 mil pastilhas de Viagra e algumas próteses penianas infláveis – mais caras e melhores do que próteses “semirrígidas”. As azulzinhas, ninguém duvida, serão obviamente usadas, como atestou o Ministério da Defesa, para combater a hipertensão arterial pulmonar (HAP), doença que atinge uma a cada 250 mil pessoas (e que, nesse caso, não poderiam servir às Forças Armadas). Mas, e as próteses infláveis, vão inflar o quê? Não me ocorre tese alguma – nem rígida nem flácida. Some-se ao episódio o fato de o Exército Brasileiro anunciar-se como “o braço forte e a mão amiga”. Um só braço e uma só mão, no caso? Ignoro a resposta.
O que não ignoro é que o Brasil virou república por meio do golpe militar deflagrado em 15 de novembro de 1889. Sei também que em 134 anos de vida republicana, as Forças Armadas deram – ou apoiaram – pelo menos três golpes contra a democracia: em 1930, em 1937 e em 1964, sem falar no “golpe dentro do golpe” que foi o AI-5 em 1968, e no golpe natimorto de 1977. E, vá lá, nos golpes “a favor” da legalidade, em 1946 e 1955. Também sei que a sociedade civil já elegeu três militares: Hermes da Fonseca, Eurico Gaspar Dutra e esse que aí está.
Sei ainda que, diferentemente de forças armadas que circularam por essas veias abertas, o Exército brasileiro nunca foi primordialmente golpista. Todas as vezes em que saiu da caserna para derrubar um regime constitucional, o fez com o apoio descarado de porções da sociedade civil e da imprensa, em especial em 1889 e em 1964, por mais arrependimentos que esses segmentos viessem a demonstrar depois.
Mas o que de fato sei é que os militares não podem agir como se a sociedade civil fosse um fantoche cujos cordéis podem ser manipulados. Se não periga a sociedade civil começar a se sentir impotente contra os desmandos e a desconfiar que meia tonelada de filé mignon e 2.5 milhões de latas de leite condensado superfaturadas não foram suficientes para baixar a hipertensão dos quartéis.
Ah, e lembrando que a empresa que produz o azulzinho é a mesma cujos e-mails oferecendo vacinas foram ignorados pelo governo cuja bandeira jamais será vermelha.