Estou completando quatro anos à frente (e também por trás e ao lado) desta coluna. São quase 200 sextas-feiras, sem faltar nenhuma, sem folga ou respiro. Por falar nisso, alguém aí conhece um bom advogado trabalhista? Queria levar um papo sobre direitos, férias, 13º, PPR etc. e tal (especialmente etc. e tal). Mas não é esse o assunto. E o assunto, ao contrário do que possa parecer, também não é a falta de assunto, pois poucas coisas podem ser mais irritantes do que colunistas reclamando de “falta de assunto” num mundo onde na verdade há engarrafamento de assuntos.
Mas o fato é que, depois de 192 colunas, me sinto no direito de retomar, ou pelo menos reciclar, certos assuntos que já abordei aqui. E uma das crônicas que fiz numa sexta-feira dessas e provocou, digamos assim, certo ruído foi sobre os malditos sopradores de folhas que, de uma hora para outra, passaram a zumbir por aí. Nunca busquei unanimidade nem jamais escrevi algo tentando agradar a quem quer que fosse. Só escrevo o que acho, sinto ou penso. Mas, para a minha alegria, houve uma avalanche de apoio, aplausos entusiásticos, vivas e urras; um quase generalizado sentimento de vingança, o que me levou a concluir que, sim, muita gente odeia os malditos sopradores de folhas, seu alarido e sua impertinência.
Mas, é claro, não adiantou nada. Não que eu achasse que fosse adiantar. Até porque não tenho certeza de que quem é capaz de usar essa geringonça saiba ler ou se deixe sensibilizar pela crônica escrita por um colunista aparentemente sem assunto. E os zumbidos prosseguiram, é claro. Expandiram-se, na verdade. Aqui do lado de casa, por exemplo, tem um funcionário que, todos os dias, às sete da matina, passa aquela máquina em cada reentrância, em cada rejunte, em cada paralelepípedo do estacionamento que ele cuida com um zelo que seria comovedor não fosse antes enlouquecedor.
Mas a questão que realmente me parece espantosa é o uso cada vez mais frequente desses máquinas diabólicas em parques públicos. Tudo bem que muita gente vá para eles para lá correr mais do que já corre na vida. Mas quantos os procuram em busca de silêncio e reflexão? Um refúgio contra a cacofonia da cidade. E então, de repente, lá vem um cara com uma daquelas coisas zumbizando feito locomotiva. E sabe o que é mais inacreditável? É que algumas delas não emitem só sons: soltam fumaça!
Sim, existem sopradores a diesel, a gasolina, a bateria e os elétricos. Será que não tem nenhum a laser? Ou a energia nuclear? Mas sugiro que, com a alta da gasolina e da energia elétrica, eles passem a funcionar com energia solar e energia eólica: o sol deixaria as folhas secas e o vento as sopraria para longe. Se o pessoal do estacionamento ou o do Parcão precisar de uma força, posso estocar vento aqui em casa para eles.