Eu não avisei?
Vem cá, me diz se existe coisa mais irritante do que o sujeito que alerta, profetiza, intui – vá lá, que “avisa” – sobre algo ou alguém e, depois que o vaticínio se concretiza, olha pra você e diz: “Eu não avisei?”
Mas fala sério, eu não avisei que o Fakebook, o Fuckbuk, o tal “Face”, era um lance nefasto? Eu não disse? Aqui mesmo, na sua, na minha, na nossa GZH? Pois eu disse, seguirei dizendo e nunca cansarei de dizê-lo: o dito “Face” é a cara do mundo – e o traseiro também. Deu voz a tal “maioria silenciosa” que, como o próprio termo indica, deveria ter se mantido calada, ruminando seus anseios e seus receios. O “Face” turvou o debate. Inverteu os signos. Trocou as bolas. Alastrou o pântano. Espalhou mentiras. Elegeu crápulas. Solapou a crítica – que já não era grande coisa. Inventou o tio do zap (até porque se adonou do WhatsApp). Piorou o que já era ruim. E sabe o que é pior? Tudo de propósito, com um só propósito: o view, ops, o vil metal.
É o que Francis Haugen, ex-gerente “de integridade cívica” (?) do aplicativo declarou no Senado dos EUA. Haugen afirmou que o Facebook “enfraquece a democracia”, “dissemina mentiras”, “prejudica a saúde mental e a autoestima” de seus usuários mais jovens (crianças aí incluídas) e é “substancialmente pior que qualquer outra” das ditas Big Techs. Há algo de podre nos seus algoritmos.
Não é preciso ter lido (ou visto) Bilionários por acaso para saber que, desde a gênese, o Facebook nasceu torto e torpe. Mas não custa lembrar que foi concebido para “ranquear” quais as “gatas” da universidade de Harvard eram mais... como diria eu, “apetitosas”? E aí há grupos feministas – dos bem fervorosos – ativos no “Face”. Restaurantes veganos – daqueles onde mel configura crime de lesa-majestade à abelha rainha – que postam no “Face”. Grupos de defesa da natureza que não pisam em formigas, mas militam no “Face”. Fingindo não saber que, ao se inscreverem no “Face”, estão assinando contrato e que o conteúdo disponibilizado ali pertence – ad infinitum – ao tal Zuckemberg e às espinhas que ele ainda tem na cara dura.
Se você já teve o desprazer de ler comentários de leitores nos sites dos grandes jornais, sabe que os mais rasteiros e rastaqueras vêm de gente que faz parte dessa reles rede. É algo despiciendo, se você me entende. Mas já disse aqui e repito: se você “dá sua opinião sem que te paguem, deve ser porque sua opinião não vale nada”. Claro que é apenas uma frase de efeito, embora com fundo de verdade. Agora, você pagar para dar uma opinião que não vale nada, aí é que é duro. Porque no fundo, quem paga pelo Facebook é você. Somos nós. É o mundo. Acho que já está na hora do Facebook pagar por isso. E não aceitamos bitcoins. Depois não diga que não avisei.