Sendo hoje 17 de setembro, isso quer dizer que faltam míseras 72 horas para a data magna, o dia nacional da República Rio-Grandense, que começou a raiar, como tu bem sabes, no 20 de setembro, o precursor da... invasão de Porto Alegre e o início da revolução que, como dizem por aí, os gaúchos perderam, fingem que empataram e festejam como se houvessem ganho. Como adoro repetir a frase – tanto que já tem gente achando que ela é de minha lavra –, tenho sido acusado de ser um inimigo da revolução. Ainda bem que não estamos na Rússia stalinista, nem em Cuba, senão eu já teria ido parar no paredón.
Mas, ao contrário do que possa parecer, sou cultor de nossas mais fundas tradições. Leio e releio Martín Fierro, Barbosa Lessa, Don Segundo Sombra, Antônio Augusto Fagundes, Jorge Luis Borges, cavalgando feito Rocinante por suas páginas. Também já li um tanto sobre os Farrapos. Por isso mesmo, acho que, como já demonstrou meu ídolo Sérgio da Costa Franco, os porto-alegrenses deveriam ao menos saber que a capital de todos os gaúchos sempre foi contra os farroupilhas, que a invadiram e a saquearam, matando e estuprando seus moradores e, depois de expulsos, a mantiveram sitiada por anos.
Mas sabe que isso até não seria um impeditivo para que aqui se festejasse a epopeia dos Farrapos? Porque, paradoxalmente, foi justo na Capital que essa festa nasceu. E esse é o ponto a ser ressaltado: a Revolução Farroupilha que os gaúchos – porto-alegrenses à frente – celebram não é a de 1835, que deu em nada. É a de 1935, que deu em tudo. Sim, pois quando Getúlio Vargas e seus milicianos amarraram os cavalos no obelisco, no centro do Rio de Janeiro, em outubro de 1930, eles não estavam só exportando para o Brasil seu modelo autoritário e positivista. Estavam, também, vingando Bento Gonçalves, que, em 1836, em vez de amarrar, chegou ao Rio amarrado, aos farrapos.
Cinco anos depois do golpe de 1930, Vargas estava solidamente estabelecido no poder e o Rio Grande, que se vangloriara de ter ficado “de pé pelo Brasil”, sentia-se pronto para festejar a guerra que perdera um século antes. E essa é a gênese da espetaculosa Exposição Farroupilha de 1935, um dos maiores eventos públicos da história de Porto Alegre. Um espetáculo feérico, com mais de 30 mil lâmpadas iluminando a Redenção, que passou a se chamar Parque Farroupilha. O que mais atraiu o público foi o pavilhão da Alemanha nazista e a bandeira com a suástica tremulou por meses na antiga Várzea. Getúlio aproveitou para tecer loas ao regime de Hitler, com o qual, aliás, quase se aliaria em 1940.
Mas naquele evento fundador do mito farroupilha não se celebrou o nazismo, e sim o castilhismo caudilhista centralizador e estatizante de Vargas e de seus acólitos, do qual o Rio Grande sempre foi celeiro para o Brasil.