Este sábado (11/9) marca os 185 anos da proclamação da República Rio-Grandense. Agora, quem quiser estar mais perto desse capítulo que é motivo de orgulho para muitos gaúchos poderá ir ao Museu Histórico Farroupilha, localizado na cidade de Piratini, a cerca de 350 km de Porto Alegre. Lá, estará exposta a coleção TcheVoni, que resgata fragmentos da Revolução Farroupilha (1835-1845) e coloca o visitante para reviver aquele episódio. A inauguração do acervo será neste sábado, às 10h, em cerimônia para convidados e imprensa.
Os artefatos que foram doados para a Secretaria Estadual da Cultura (Sedac) pelo colecionador Volnir Júnior dos Santos, o TcheVoni, podem ser conferidos pelo público a partir deste domingo (12/9), de terça-feira a domingo, mediante agendamento pelo e-mail museufarroupilha@gmail.com. O acervo conta com 988 peças, entre livros, espadas, balas de canhão, documentos, moedas e itens comemorativos do período farroupilha.
Para a inauguração do acervo, neste sábado, TcheVoni, gaúcho que mora em Rio Grande do Norte, veio ao Estado na condição de hóspede oficial, sendo recebido pela secretária estadual da Cultura, Beatriz Araujo, e por Francieli Domingues Corral, diretora do Museu Farroupilha, recebendo uma homenagem pelo seu gesto.
— Essa exposição está sendo preparada desde 2019, quando nós soubemos e fomos ao encontro do doador do acervo, mas atrasou o processo por conta da pandemia. A coleção tem uma riqueza de itens. O TcheVoni colecionou absolutamente tudo que dizia respeito ao período. São peças muito importantes, pois remontam de uma forma bastante contundente o dia a dia dos farrapos — explica a secretária.
Na ocasião, também ocorrerá o descerramento da obra artística Fuga de Anita Garibaldi a Cavalo, de autoria de Dakir Parreiras (1894-1967), restaurada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), por meio de um acordo de cooperação técnico-científico firmado entre a Sedac e a instituição de ensino, em 2019.
O sonho
O empresário TcheVoni deixou o Estado há duas décadas e partiu para o outro Rio Grande, o do Norte. Porém, seu coração ficou por aqui e, principalmente, ligado à Revolução Farroupilha. Assim, durante esses 20 anos afastado, garimpou peças que contassem a história deste que é um dos episódios marcantes para o povo gaúcho. No final, acumulou 988 artefatos.
Com tanto da história rio-grandense em mãos, ele considerou erguer um museu em Gramado para exibir as peças. Mas, em 2019, uma situação inesperada mudou o destino da coleção.
Em um sonho de TcheVoni, carregado de tragédia, os artefatos se perdiam, e ele próprio morria. E, no Rio Grande do Norte, ninguém sabia do que se tratavam as peças. Foi então que São Miguel Arcanjo apareceu para o empresário e disse para levar a coleção para Piratini. Na manhã seguinte, o dono dos itens foi às redes sociais e deixou claro o seu desejo de doar a sua coleção ao Museu Farroupilha. Logo em seguida, a secretária Beatriz e a diretora Francieli iniciaram as tratativas para as peças voltarem para casa.
— Eu não pisava no Rio Grande do Sul desde 2001. Para mim, está sendo mágico e o meu sentimento é de gratidão. Esses artefatos que arrecadei são para que as próximas gerações possam entender e estudar que não foi um conto do charque, tudo o que aconteceu não foi somente por causa do imposto de um produto. Nós morremos por uma pátria legítima chamada República Rio-Grandense — diz TcheVoni, ao reencontrar o solo gaúcho.
De acordo com o doador, ele não ficou com nenhuma peça de seus 20 anos de garimpo como recordação. O empresário ressalta que o seu objetivo sempre foi acumular os artefatos para deixar para os gaúchos que ainda estão por vir.
— E eu sigo doando. Neste ano, já enviei mais três artefatos. É como se a minha coleção, que agora é nossa, estivesse guardada em Piratini. Eu continuo comprando sempre que posso e sigo enviando — conta.
O museu
Para receber o acervo, o Museu Histórico Farroupilha teve um tratamento especial. Segundo Beatriz Araujo, o prédio passou por melhorias: a estrutura, além de ter sido reparada para conter infiltrações, ainda ganhou um mobiliário totalmente novo e passou a contar com uma ampliação no esquema de segurança para proteger as peças.
— Este acervo é quase o dobro do que se tinha no museu. Então, nós trabalhamos para que este acervo tenha uma exposição adequada e que as pessoas possam usufruir deste patrimônio que está sendo repatriado — explica a secretária.
Entre as peças, Beatriz ressalta que muitas são bélicas e que algumas chamam atenção por serem curiosas. Ela destaca, por exemplo, que existe uma arma infantil. A explicação para tal item, de acordo com a secretária, é que, no período farroupilha, as mulheres ficavam defendendo as suas propriedades enquanto os homens saíam para as batalhas. Caso alguma criança visse a sua mãe sendo atacada, poderia usar o revólver, que é pequeno, para defendê-la.
Além disso, a secretária conta que muitos documentos e objetos raros estão no acervo, como itens produzidos pela Disney e que têm relação com o período. Cartas escritas por Giuseppe Garibaldi, moedas e um passaporte que permitia que a pessoa transitasse livremente pela república farroupilha — o qual ela acredita ser único — também fazem parte da exposição.
Com a doação, o museu, que antes abrigava cerca de 600 itens, passou para quase 1.600 peças. Assim, de acordo com a diretora do Museu Farroupilha, houve a possibilidade de duas novas salas de exposição serem abertas no local para tratarem da importância da mulher e do negro na formação da República Rio-Grandense, assunto que antes não tinha espaço exclusivo.
Francieli acredita que Piratini entra em um novo tempo após o 11 de setembro de 2021, uma vez que a cidade deverá atrair ainda mais interesse turístico e, com a coleção, poderá contribuir para a pesquisa histórica:
— Parte da República Rio-Grandense retorna para casa. E essa casa é o Museu Farroupilha. O nosso município de Piratini, que foi sede do movimento farroupilha, sempre foi sedento por todo esse capítulo histórico, que influencia as nossas tradições, a nossa cultura. Então, esse acervo vai além das portas do museu. Além de ter um valor histórico imensurável, ele é capaz de preencher lacunas históricas existentes há muitos anos.