Há quem não goste de agosto. Dizem-no “mês do desgosto”. Motivos para tal, em tese, não faltam. Remontam aos tempos romanos, avançam pelo massacre da Noite de São Bartolomeu, na França, em 1572 (quando uma turba católica dizimou protestantes); explodem na erupção do Krakatoa em 1863, e arrasam quarteirões nas bombas lançadas em Nagasaki e Hiroshima, dentre outras vergonhas e tragédias. No Brasil, acuado pela direita golpista, que passara a vê-lo como “comunista”, Vargas se matou em 24 de agosto de 1954; sete anos e um dia depois, Jânio Quadros, eleito pela direita constrangida, renunciou alegando “forças ocultas” e em 22 de agosto de 1976, Juscelino Kubitschek, cuja posse a direita hidrófoba quisera impedir em 1955 (pois o considerava “comunista”) e que a direita fardada havia cassado em 1964, morreu em estranho acidente automobilístico.
Ainda assim, para mim, agosto sempre foi mês bem composto – ou pelo menos sem os supostos desgostos. Afinal, o dia 9 do dito mês marca duas grandes transformações em minha vida, ambas prestes a completar aniversário, depois de depois de amanhã. No dia 9 de agosto de 1976, uma segunda-feira – há espantosos 45 anos –, entrei pela porta da frente de Zero Hora para dar início à minha vida como jornalista. Como já escrevi aqui, naquele tempo havia seis jornais diários em Porto Alegre (“jornal”, para quem não lembra, é um papel cheio de notícias, boa parte delas fidedignas).
Exatos cinco anos mais tarde, em 9 de agosto de 1981 – há inacreditáveis 40 anos –, comi carne vermelha pela última vez na vida. Já não vinha ingerindo
animais mortos desde maio daquele ano. Mas 9 de agosto de 81 calhou de ser Dia dos Pais e pelas dez horas da madrugada daquele domingo fui acordado pela estridência da campainha. Levantei e, contrariado,
nem as cuecas botei. Abri a porta. Era o senhor meu pai. Num braço, ele carregava um saco de carvão; no outro, uns cinco quilos de carne, divididos entre costela, picanha, alcatra e – oh, céus – porco e salsichão. Olhou para mim com os olhos faiscantes e, entre debochado e veraz, vaticinou um velho e preconceituoso conceito gaúcho:
– Vegetariano é tudo fresco, e não sou pai de fresco. Vamos fazer um churrasco de Dia dos Pais.
Fizemos. Comemos – e devo confessar que, na hora, pareceu bom. Afinal, eu tinha 23 anos e comia carne havia 24. Mas logo a seguir, passei mal. E jurei que, a partir de então, bois e vacas só no campo, ou no presépio. Ao contrário do juramento que fizera ao sair pela porta dos fundos de ZH – garantindo a mim mesmo que o jornalismo era coisa do passado –, essa segunda promessa eu cumpri. E, assim, aqui sigo eu, em meu frescor veggie, em busca de notícias frescas, escutando pelas frestas eventuais latidos, pois agosto também é mês do cachorro louco.