Para alguns – justamente aqueles que faziam uso dela – era a erva sagrada. Afinal, energizava, despoluía o organismo, deixava o dia melhor e mais limpo, abatia a tristeza e incensava a alegria. Mas, para outros – a maioria dos quais jamais sequer a havia provado – era a "erva do diabo": a planta maldita, que entorpecia, viciava, fazia mal para o corpo e para o espírito. Firmes em sua convicção, esses lutaram com fervor para proibi-la, embora seu consumo milenar jamais houvesse causado nenhum problema a milhares de usuários. Dentre os quais, aliás, parece que havia os que asseguravam consumi-la diariamente há décadas e mesmo assim, nunca tinham se viciado...
Os guaranis a batizaram de kaá karai – ou folha sagrada: um presente dos deuses para a nação que a havia domesticado, plantado com paciência e ciência e a sorvia ao longo de séculos. Ela servia para matar a sede, enganar a fome e despertar a mente. Mas não adiantou. Tão logo os jesuítas chegaram ao Paraguai e ao Paraná para catequizá-los, acharam estar diante de mais erva diabólica. A voz da repressão gritou mais alto e em 1610 o padre Ruiz de Montoya excomungou a erva santa das Missões, tornando-a profana e sagrada num só gole.
Mas tão logo aquela infusão mostrou-se capaz de arrancar do torpor os soldados e aventureiros e criadores de gado que vieram parar nos confins meridionais da América, eles se afeiçoaram a ela. Mas não entenderam bem o que os nativos lhes disseram, nem que bebida era aquela – e a chamaram de "mate". Mas "matty" era apenas a palavra quíchua para "cuia", o recipiente feito de porongo no qual é sorvido o chimarrão – a mágica infusão de erva-mate.
Vencida a resistência inicial, os padres acabaram deixando os índios seguir com seu "vício", quando não sucumbiram a ele. E assim que começaram a lucrar com o fruto dos ervais plantandos em suas Missões, também passaram a considerá-la erva santa. E foi assim que o mate acabou se tornando, ao mesmo tempo, o chá, o café e o vinho do gaúcho, expandindo-se até virar um dos símbolos da altivez, da liberdade e da solidão dos "centauros dos pampas". Hoje, a erva mate é indispensável na vida de vastos contingentes populacionais na Argentina, no Uruguai, no Paraguai e no Sul do Brasil. Muitos gaúchos – nativos ou adotivos – não vivem sem o chimarrão nosso de cada dia, quando não de cada hora...
Enquanto isso, outras ervas aguardam de bobeira na fila do legalize. Dizem que não são ligantes, como o mate. Mas, como ele, curam vários males.