Sou do tempo em que havia estações. "Estação", você sabe, pode ser o local de onde partem e chegam ônibus e trens (na época em que trens existiam), mas me refiro, é claro, aos "períodos" ou "ciclos" do ano. Sou, portanto, do tempo em que havia "inverno" – a estação na qual fazia frio – e também "verão", quando ficava quente, mas nem sempre um calor tórrido, escaldante e muito menos "ensurdecedor" como teria dito certa feita um repórter esportivo. No verão, íamos para a praia ao acordar – cedo, é claro – e só voltávamos quando a noite já havia generosamente estendido seu manto e recoberto o sol, embora esse, naquele tempo, ainda não fosse capaz de furar a tal "camada de ozônio", de cuja existência (e o próprio nome) ninguém tinha conhecimento. Até porque "veris" em latim, sempre quis dizer "tempo bom", e o tempo estava sempre bom, até quando chovia. Já no inverno, acendíamos a lareira, comíamos pinhão, dormíamos com duas meias e, quem o tinha, metia-se num pijama de flanela (o meu era laranja com bolinhas brancas – um tanto constrangedor, mas bem quentinho). Era, afinal, o "tempus hibernus": tempo de hibernar
Sagração da primavera
Para não dizer que não falei de flores
Estamos no longo e tenebroso inverno do aquecimento global
Eduardo Bueno