Sei que o Estado é laico, mas será que não está na hora de termos um ministro umbandista no STF? Eu pergunto-lhes: existe algum, entre os 11 ministros do Supremo, que seja umbandista assumido? Poxa, o Brasil é a pátria da umbanda, essa incrível seita sincrética que surgiu da mescla entre as religiões africanas e o cristianismo: a religião da mistura, da fusão, do “jeitinho”. Além disso, na língua banto, “umbanda” significa “a arte de curar”. E ninguém em sã consciência deixará de admitir que o Brasil e o STF precisam ser curados. Não seria, portanto, hora de um ministro umbandista no STF?
Sei que o Estado é laico, mas será que não está na hora de termos um ministro budista no STF? Existe algum ministro do Supremo que seja budista assumido? O budismo é do bem, você sabe: tudo na santa paz do Senhor, embora, tecnicamente, ele sequer seja uma religião, nem tenha “senhor”. Mas, poxa, a seita brotou na luxuriante Índia, não num deserto infértil, e há mais de 2,5 mil anos. E no fim ninguém padece na cruz: Buda vira luz. Não seria hora de um ministro budista no STF?
Sei que o Estado é laico, mas será que não está na hora de termos um ministro xamanista no STF? Existe algum ministro do Supremo que seja xamanista assumido? Poxa, o Brasil deve tanto às suas raízes tupis. Tupi or not tupi, that’s the question. E os xamãs curavam doenças, tinham visões, orientavam as tribos na guerra e na paz. Aliás, viviam baforando o cachimbo da paz. Não seria hora de um ministro xamanista a baforar no STF?
Sei que o Estado é laico, mas será que não está na hora de termos um ministro islâmico no STF? Poxa, há tanta incompreensão com o Islã, tanto sangue vertido em horrendas guerras religiosas. O Brasil não poderia dar mais um exemplo de sua proverbial tolerância religiosa ao mundo? Não seria hora de um ministro islâmico no STF?
Sei que o Estado é laico, mas não está na hora de termos um ministro espírita no STF? Ele daria passes, invocaria os mortos, se livraria dos encostos e dos encostados, faria sessões de descarrego e até uma eventual sessão do copo. E um Hare Krishna no STF? Poxa, imagina a toga laranja dando cor àquelas asas negras que recobrem os demais e o suave som dos mantras. E um ministro Rajneesh então? Sei que toga vermelha é feia – nossas togas jamais serão vermelhas! –, mas, poxa, os Rajneesh são favoráveis ao amor livre! E um ministro maçom? O STF não é nenhuma Casa Masson, bem o sei, mas, poxa, a maçonaria esteve por trás da Independência, da abolição e da República. Dom Pedro I, Dom Pedro II, o Barão de Mauá, Benjamin Constant, eram maçons. Não seria hora de um ministro reintroduzir a maçonaria no STF?
“Não me vem (sic) a imprensa dizer que quero misturar a Justiça com religião. Todos nós temos uma religião, ou não temos. Um tem que respeitar o outro.” Por isso pergunto: não está na hora de termos um ministro ateu no STF? Pois ministro à toa parece que já temos.