Sou o biógrafo oficial da Caixa Econômica Federal. Orgulhoso biógrafo, aliás. Em 2001, a convite do então presidente Fernando Henrique Cardoso, escrevi a história dessa instituição mais que centenária, fundada em janeiro de 1861 por D. Pedro II e pelo barão de Mauá para ser “o banco das classes menos favorecidas”. Aceitei a tarefa só pela grana, achando que a história seria uma chatice. Errei feio: o governo me tungou 33% na fonte, mas a história era ótima. Pude resgatar a trajetória do primeiro cliente da Caixa, o incrível professor gaúcho Antonio Pereira Coruja (1806-1889); encontrei um conto fabuloso (e perdido) de Machado de Assis sobre o banco (além de seu testamento legando os depósitos em sua caderneta); achei um trecho de Lima Barreto debochando da poupança e “provei” que a Caixa apoiara a Semana de Arte Moderna de 1922.
Levei nove árduos meses para concluir a obra. E ela se tornou a primeira (e até agora única) história da Caixa, o que me leva a pensar no que os formandos em História gastam seu tempo e em que tipo de tese.
Graças ao livro, adquiri a convicção de que a Caixa é nossa, foi feita para nós e surgiu para que todos possamos ter casa própria – e todas as vezes, e não foram poucas, que ela se desviou desse processo foi só porque fomos omissos, incompetentes ou desatentos o bastante para permiti-lo. Escrito com total liberdade editorial, o livro celebrou os 140 anos da Caixa. Dez anos mais tarde, em 2011, a direção do banco me procurou para atualizar a obra para o sesquicentenário da Caixa. Quando a nova edição já estava na gráfica, trechos originais narrando falcatruas cometidas no banco nos governos Sarney e Collor foram suprimidos – sem meu consentimento. Ocorre que o PT estava no poder e Collor e Sarney tinham virado aliados (ou afilhados?) de Lula, o poderoso chefão.
Cabe lembrar, porém, que o PT tornou o banco mais inclusivo, pois o Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida eram atribuições da Caixa. Por isso, seus comerciais abriram o leque e o “povo” e as “minorias” passaram a fazer parte deles – até porque a Caixa nasceu para ser “o banco das classes menos favorecidas”. Em acesa competição com a Caixa, o Banco do Brasil trilhou igual caminho em seus anúncios. E assim iam as coisas até que o atual Messias do Brasil decidiu censurar o mais recente comercial do BB – pois não seguia “a linha” dele. Que “linha” é essa nem quero saber.
O que sei é que atos assim conduzem esse governo em direção à lata de lixo da História. Só acho que alguém deveria avisá-los de que lá é um lugar horrível, já habitado por outros censores. Afinal, só estou escrevendo isto porque o presidiário de Curitiba não me censurou (como ao livro), nem conseguiu “regulamentar a mídia”, como lamentou não ter feito em entrevista tão constrangedora quanto tantas das declarações do atual presidente, seu suposto antípoda.
Mas eles passarão. E a Caixa e o Banco do Brasil passam a limpo.