O Gauchão 2018 representa o começo de um novo ciclo para Francisco de Paula dos Santos Silva Neto. Ao longo dos últimos 20 anos, ele andou por diferentes cidades e estádios do Rio Grande do Sul trabalhando em jogos da competição estadual. Entre acertos e erros, conviveu e superou algumas polêmicas. Quando a bola rolar na próxima semana, o agora ex-árbitro estará longe dos gramados.
Aos 46 anos, Francisco Neto decidiu se aposentar, mas não abandonou completamente o apito. O ex-juiz foi convidado pela Federação Gaúcha de Futebol para ser um dos instrutores na pré-temporada da arbitragem, que ocorre em Flores da Cunha, na Serra gaúcha.
Em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha, nessa sexta-feira (12), Chico Neto contou como está sendo a transição de função. Ele também lembrou momentos marcantes, admitiu a frustração de ter encerrado a carreira sem ter realizado o sonho de apitar um Gre-Nal e reconheceu que o rótulo de "Chico Colorado" prejudicou o crescimento na arbitragem. Confira abaixo os principais trechos da entrevista:
Como está sendo essa mudança de deixar os gramados para atuar na função de instrutor?
Estamos em outra esfera, que é tentar ajudar os árbitros mais novos a surgir em um cenário mais promissor em um tempo mais curto. Vinha me preparando há algum tempo. Minha carreira, em alguns momentos, foi muito sofrida no que diz respeito ao que eu vivi dentro da arbitragem. Apitei futebol durante 25 anos da minha vida. Os acertos foram muitos, mas alguns erros que eu tive foram muito ressaltados nessa trajetória. A gente tem que ter uma força muito grande para tirar vontade, olhando nos olhos dos filhos e da esposa, para continuar galgando um espaço maior. Resolvi parar, mas estou tranquilo. Estou em uma nova fase. Não sei o que será daqui para a frente depois desta pré-temporada.
Foram quantos anos apitando Gauchão?
Foram 20 anos no Gauchão. É um campeonato ótimo. O árbitro que se forma no Rio Grande do Sul e apita Campeonato Gaúcho também apita qualquer clássico e em qualquer lugar do Brasil. Aqui o futebol é muito aguerrido e muito pegado.
Nestes 20 anos de Gauchão, o que foi mais marcante?
Os bons jogos sempre foram trabalhando com Grêmio, Inter, Brasil de Pelotas. Eu tenho todos os clássicos do interior. Isso é muito legal na vida de um árbitro. Conhecer muitos campos, muitas cidades, muitas torcidas. Fiz muito mais bons jogos e um trabalho de qualidade do que na parte negativa. Isso eu levo para a minha vida.
Faltou um Gre-Nal na tua carreirra?
Isso é uma das coisas que faltou na minha carreira, que é o grande clássico do Rio Grande do Sul. Faltou esse jogo. Eu penso que isso me trouxe uma frustração porque todo árbitro que entra para fazer o curso na Federação Gaúcha de Futebol tem como foco apitar um Gre-Nal. Foi uma das coisas que me deixou um pouco triste na minha trajetória, mas como tinha falado as coisas boas foram bem maiores. Infelizmente ficou o clássico Gre-Nal para trás. Se tivesse apitado, tenho certeza de que iria muito bem porque eu era um árbitro muito disciplinador. Seria um bom árbitro de Gre-Nal.
Houve dois episódios que marcaram tua carreira, um deles com um dirigente e o outro com um treinador. O primeiro foi em 2006, quando o então dirigente do Grêmio Renato Moreira te chamou de "Chico Colorado". Depois, em 2015, o fato se repetiu com a manifestação do Felipão. O quanto isso te atrapalhou no objetivo de apitar um Gre-Nal?
Prejudicou bastante, aqui tudo é grenalizado, mas eu procurei levantar minha cabeça e continuar apitando os jogos. O que me deixa triste é que neste incidente em que o Felipão voltou a falar essa coisa que o Renato Moreira falou um tempo atrás, o Grêmio ganhou o jogo de 1 a 0. Não entendo porque chegou a isso. O jogo foi normal. Não teve nada com o árbitro. Do nada, falou aquilo. Tive que expulsar ele (Felipão) do campo. É claro que fica carregado isso no teu nome, no futuro próximo. Como falei, em um estado grenalizado fica difícil depois almejar uma carreira mais vitoriosa dentro do maior clássico do futebol gaúcho, que é o Gre-Nal.
O que podemos esperar da arbitragem do Rio Grande do Sul daqui para a frente?
Acho que vem bons árbitros por aí. Ainda temos o Daronco e Vuaden. Vem uma gurizada nova pedindo espaço. Eles vão abrir os caminhos. A reclamação sempre haverá e isso faz parte do futebol. Acho que vem uma safra boa de árbitros para o cenário brasileiro e com o nome da arbitragem gaúcha sempre em evidência.