Serão só duas rodadas de paralisação de um campeonato de futebol. As vidas perdidas na catástrofe não voltarão. Que nenhum defensor da bola rolando a qualquer custo levante esse argumento, pelo amor de Deus, seja qual for o da sua crença. Trata-se do gesto. Do fato histórico de uma classe sempre desunida se posicionar. Do abraço fraterno em um pedaço do Brasil que só faz chorar há mais de 15 dias. A consciência foi ganhando o país.
Técnicos e jogadores se posicionaram sem pedir licença aos cartolas. Torcedores pressionaram. O Atlético-GO era contra, mas mudou de ideia. Os mineiros a defenderam desde o início. O Botafogo titubeou, mas cerrou fileiras com Vasco e Fluminense. Por fim, Bahia e Vitória desceram do muro e completaram os votos necessários para essa breve porém emblemática pausa, isolando Flamengo e o trio de ferro paulista — Palmeiras, São Paulo e Corinthians.
Até a CBF somou pontos. Desistiu da ideia ridícula de transferir o debate para o fim do mês. Não se trata uma catástrofe assassina, que colapsou um pedaço do Brasil, como um assuntinho qualquer, daqueles de empurrar com a barriga. Foi-se a tese de que a melhor maneira de ajudar as vítimas é jogar de qualquer maneira. É um argumento sem nexo, tipo casar ou comprar uma coca-cola.
O Governo sugeriu que o RS fique três anos sem pagar sua dívida com a União. Direita e esquerda se uniram e aprovaram o projeto por unanimidade no Senado. O silêncio do futebol seria uma vergonha eterna. A história cobrará a fatura dos que recusaram esse abraço mínimo no povo gaúcho, que dialoga com a ética do esporte. Tudo bem jogar imediatamente contra adversários, Grêmio, Inter e Juventude, que passaram 15 dias sem ter onde treinar e mal sabem onde jogarão? O futebol disse não.