Errei o cobrador da falta para o gol de Everton na virada sobre o Palmeiras, na coluna pós-classificação para a semifinal da Libertadores, a terceira seguida.
Foi Alisson, e não Jean Pyerre, o autor do passe açucarado completado por Cebolinha. Eis uma justa correção que me permite abordar um personagem deste Grêmio de Renato.
E não apenas pelo que fez na virada sobre o Pacaembu, com assistência e gol, mas olhando o conjunto da obra. Apesar de participações decisivas (lembram daquele gol contra o Estudiantes, no ano passado?), há controvérsia. Inclusive na torcida. Volta e meia o clamor pede Tardelli, Luan ou Pepê em seu lugar.
Ele é o patinho feio do Grêmio. Os elogios e os apelidos vão para os cisnes. Peleverton. Geromito. Alisson é o operário. Só que, sem a importância do trabalho operário, prédio algum se sustenta.
Por vezes, Alisson se sacrifica em nome do brilho alheio, abrindo mão de estar sempre lá na frente finalizando. Joga para o time. Recompõe com disciplina espartana. Tem sido um Ramiro às avessas, sobretudo após a Copa América. Em vez do volante que pisa na área, o atacante que acompanha lateral e fecha o meio.
A sacada de Renato em 2019 talvez não seja Matheus Henrique ou Jean Pyerre, na cirurgia de time feita após a derrota no Chile, para a Univesidad Católica, quando um ponto em três jogos parecia eliminação certa na fase de grupos. Esses se escalaram ao natural, pelo talento gritante.
Alisson, não.
Alisson é uma peça tática concebida, construída e moldada por Renato. No Cruzeiro, ele não era nada disso. Uma sacada típica do técnico, que viu nele condições de exercer a função, pela direita, e insistiu na sua escolha até o fim.