Ainda lembro da última notícia de 2021, esse ano já tão longe, de mim distante: era cedo ainda, 7 horas da manhã, e um homem rodava de carro pelas ruas da cidade, levando, no banco do carona, três pudins que sua esposa havia preparado e que ele precisava entregar em determinado endereço. Ao chegar ao alto da lomba da Plínio Brasil Milano, porém, as leis da física o puniram. Como o bico do carro apontou para baixo, os pratos de pudim começaram a deslizar, atraídos pela força da gravidade, ameaçando se espatifar no chão. Aflito, o motorista tentou segurar os pratos para salvar os pudins, mas acabou perdendo o controle da direção, saiu da pista e capotou. O repórter de GZH viu os pudins espalhados na calçada e lamentou o que chamou de “dano alimentício”, pois dano físico felizmente não houve.
Também eu lamentei. A mulher do motorista devia ter passado boa parte da noite fazendo os pudins, que seriam estrelas em uma, duas ou até três festas de Réveillon. E agora lá estavam eles, inutilizados tristemente na via pública.
Fiquei olhando para as fotos daqueles pudins dilacerados. Que tristeza. Você já deve ter percebido que sou um entusiasta do pudim de leite condensado. Quase tanto meu amigo Élder Ogliari, que diz que as quatro melhores coisas da vida são, pela ordem:
1 - Gol do Grêmio
2 - Pudim de leite condensado
3 - O doce sabor da vingança
4 - Mulher.
Essas prioridades do Élder me encantam e as cito sempre que posso. Pego-me sempre elegendo as minhas quatro prioridades, mas não sou tão resoluto quanto o Élder, elas vivem mudando. Pudim de leite já esteve bem classificado. Não em segundo lugar, talvez em quarto. Pegaria a Libertadores.
Uma época a minha mãe fazia pudim de leite com queijo parmesão ralado. Aí, sim. Aí a coisa ficava séria e o pudim subia na tabela. Noutras vezes, deixava-me seduzir por rivais, como o sagu com creme, muito creme.
De qualquer maneira, o fato é que 2021 terminou com aquela imagem dos pudins dilacerados no chão da rua, um símbolo de festa frustrada, de gozo interrompido antes de começar. Um resumo do ano. Porque, quando 2020 terminou, nós pensamos: agora chega, a pandemia está no fim e 2021 será um tempo de redenção, todos voltaremos a nos encontrar e a comemorar e a viver. Mas, não. A pandemia recrudesceu depois do Ano Novo e do Carnaval e tudo tornou a ficar nebuloso. Então, 2021 foi uma decepção. Foi o regalo que não aconteceu.
Claro, não vamos ficar agora chorando sobre o pudim derramado. Vamos em frente, com coragem. Mas como está demorando essa nossa libertação. Porque a Ômicron está grassando com volúpia, como se nossos pudins ameaçassem cair do banco. Ela não parece tão feroz, mas e se outra variante se insinuar no seio daqueles 30% que não se vacinaram? Vacinem-se, por favor, para que 2022 seja um ano de pudins íntegros! Precisamos de nossos pudins inteiros, no fim de 2022.