De que me adiantaria ter o martelo Mjolnir? Fiquei pensando muito nisso, depois de assistir à série norueguesa Ragnarok. É uma série sobre mitologia nórdica, Thor, Odin, Loki, todos aqueles deuses que foram consagrados pelos quadrinhos e pelo cinema. A diferença é que é produzida pelos próprios noruegueses, você se depara com a maneira como eles veem esses personagens, bem como o estilo de vida da Noruega, a forma como eles encaram a existência, sobretudo os jovens – é uma série feita para jovens.
Ragnarok. Não vai torná-lo uma pessoa melhor, mas será uma boa diversão.
Eu falava do martelo Mjolnir, a mais poderosa arma do mundo antigo. Thor o empunhava e o atirava em algum inimigo. O martelo voava a jato, destruía tudo que atingia e voltava, obediente, para as mãos do dono. O que eu ia fazer com um troço desses? É verdade que às vezes tenho vontade de jogar um martelo na cabeça de algumas pessoas, mas não vou fazer isso, não é? Sou da paz. Então, o Mjolnir não resolveria os meus problemas.
Que superpoder eu quereria, se pudesse escolher um, apenas um? Você vai achar que estou vendo muitos filmes de super-heróis, mas não é bem assim. Cansei um pouco desses filmes. Meu filho é que volta e meia me questiona:
— Escolhe um superpoder, papai. Só um!
Então, fico pensando. Voar seria legal, mas as pessoas iam me ver lá em cima e aí eu não teria mais sossego. Ficariam me assediando, me aborrecendo. Não quero fama, com meu poder. Quero, apenas, ficar bem e me distrair um pouco.
Visão de raio x, quem sabe? Não vejo muita utilidade, a não ser que fosse trabalhar como radiologista. Daria o diagnóstico antes de as pessoas entrarem na máquina de tomografia. Mas aí teria de fazer curso de medicina, não tenho mais idade, melhor desistir da visão de raio x.
Superforça? Seria interessante ter superforça, entortar barras de ferro, abrir compotas e enfrentar bandidos, se bem que não tenho a intenção de sair brigando por aí. Já disse: sou da paz.
Vou dizer qual é o superpoder que mais me encantaria: ficar invisível. Ter a possibilidade de, volta e meia, simples e literalmente desaparecer. Eu sairia pelas ruas e observaria despudoradamente as pessoas e a vida lá fora. Talvez investigasse a intimidade de alguns ou lhes pregasse peças. Entraria à sorrelfa em suas casas e mudaria os móveis de lugar só para ver a reação depois. Seria engraçado.
Ficar invisível também serve no enfrentamento com malfeitores. Eles querem me assaltar, por exemplo, e eu desapareço. Cadê ele? Ninguém sabe, ninguém viu.
Mas o melhor da invisibilidade talvez fosse apenas psicológico: a sensação de alheamento do mundo. Todas as discussões, todas as cobranças, todos os julgamentos, nada disso me afeta. Não sou a favor, nem contra, nem mesmo sou neutro. Não estou de lado nenhum, porque simplesmente não estou em parte alguma.
Alguém pode dizer que isso seria como estar morto. Não. Isso seria estar vivo em outra dimensão, um lugar em que as pessoas são o que são, sem que ninguém dê palpite ou opinião. Ah, você quer muito expressar sua opinião? Cuidado! Posso mudar de ideia e lhe atirar o Mjolnir na cabeça.