Como somos contagiosos. Um ano e meio de padecimentos pandêmicos deixou isso evidente e demonstrado, mas já havia notado essa nossa faculdade graças aos mendigos. Eles são admiráveis. Um começa a fazer algo no Rio ou em São Paulo e logo todos aqui estão fazendo igual. Certo dia, alguém pintou o corpo de prateado em Copacabana. Duas semanas depois, dezenas de mendigos estavam cobertos de tinta pelo Brasil.
A mesma coisa é a sacola de balinhas – sacolas de balinhas são penduradas nos espelhos retrovisores de todas as grandes cidades entre Porto Alegre e Manaus. Como essa técnica foi espalhada? E, agora, os cartazes estão na moda. Os pedintes se posicionam diante dos carros e abrem um cartaz em que dizem por que estão precisando de ajuda. Um método inteligente – ele, assim, não tem necessidade de explicar sua situação para cada motorista.
Como é que eles se comunicam? Como é que mendigos do país inteiro, ou até do mundo, partilham sistemas de atuação? Há mendigos que viajam para adquirir novos “know hows”? Eles fazem congressos? “Meetings” pela internet?
É que, como já disse, somos contagiosos. Um chinês, um único chinês, comeu morcego lá na China, em Wuhan. Ele se infectou com coronavírus. Três meses depois, o planeta estava coberto por essa praga, inclusive Porto Alegre. Você sabe qual é a distância entre Porto Alegre e Wuhan? Consultei o Google: 18.600 quilômetros. Como foi possível haver comunicação entre dois locais tão afastados?
Assim acontece também com certas frases ou expressões idiomáticas. Alguém diz algo inteligente ou engraçado e, em semanas, todos estão dizendo o mesmo. Acredite, houve um dia em que falar “rápido como um raio”, “fazer vista grossa” ou “deixar a ver navios” era novo e original. Algum bidu disse isso pela primeira vez e as pessoas acharam muito bem dito e saíram por aí repetindo.
As pessoas gostam de fazer o que os outros fazem, dizer o que os outros dizem, pensar o que os outros pensam. Dá uma sensação de segurança. Além do mais, é cômodo: se você reproduz ações e ideias dos outros, não precisa ficar pensando no que é certo ou errado. O certo e o errado já estão postos. Você vai lá e pega um “certo” enlatado e prontinho para o uso.
Esse é o fenômeno de sustentação das fake news e das grandes massas de admiradores de políticos. Nossos dois líderes populistas de hoje, Bolsonaro e Lula, são amados com amor de mãe, incondicional. Seus seguidores sempre têm justificativas para os atos deles, por duvidosos que sejam. Por quê? Porque formam uma coletividade. Eles têm a sensação de pertencimento a um grande rebanho. Estão infectados com o bolsonarismo ou o lulismo. Se muitas pessoas estão fazendo algo, os outros pensam: “Vou fazer também, deve ser bom”.
Minha mãe dizia, quando eu era guri: “Cuida com o que tu falas, porque os anjos podem estar dizendo amém lá no Céu e aí o que é falado se cumpre”. Ela tinha razão. É preciso ter cuidado com o que se diz. Vá que contagie outras pessoas, vá que se espalhe, vá que “pegue”. Então, meu amigo, se você for viralizar, que seja com um vírus do Bem.