É fácil controlar a pandemia do coronavírus. Basta fechar todas as empresas públicas e privadas, proibir o funcionamento de todo o comércio, toda a indústria e todas as escolas, e proibir terminantemente a população de sair de casa. Pronto. Talvez as pessoas morram de inanição, mas de covid-19 não morrerão.
O que é difícil, para um gestor, é combater a doença com a sociedade funcionando em um nível razoável. No caso do Rio Grande do Sul, o Estado fechou cedo, no meio de março, há quase quatro meses. Não houve o temido “lockdown”, mas houve forte “distanciamento controlado”, como eles chamam. As semanas foram se passando e os casos de covid-19, em comparação com outros estados, eram mínimos. Nossos governantes foram aplaudidos, a população se congratulou. Viva!
Aí o inverno chegou. Muita gente sabia que chegaria, é um hábito do inverno chegar nessa época do ano, mas nossos gestores, aparentemente, se surpreenderam com o evento. Eles agora estão assustados. Estão ameaçando impor mais restrições. Estão brandindo o lockdown como se fosse uma espada, porque o sistema de saúde, advertem, vai se esgotar.
Mas como é que o sistema pode se esgotar, se eles tiveram tempo para robustece-lo? Não foi isso que nos disseram? O sistema de saúde foi duplicado, mas não é suficiente? Por que não triplicaram? Ou quadruplicaram? Por que não contrataram mais médicos e os treinaram para atuar nas UTIs? Por que não nos informaram que seriam necessários mais recursos, mais investimentos, mais esforços? Por que não nos disseram que o que estava sendo feito não bastava?
Nesses últimos quatro meses, o que se viu foi uma população disposta a ajudar. Conheço diversos empresários que doaram pequenas fortunas para auxiliar no combate à doença, tenho colegas que se mobilizaram para reunir roupas, alimentos, máscaras, o que fosse preciso para colaborar. Por que essa vontade coletiva não foi direcionada para o atingimento de um objetivo? No caso, do fortalecimento do sistema de saúde para que, com a chegada do inverno, não fosse necessário impor restrições ainda mais severas. Por que isso não foi feito?
Fique em casa, eles dizem. Ficaremos, porque ninguém quer adoecer. Todos queremos nos salvar. Mas, se nos salvarmos, será graças a nós mesmos. Não graças a eles.