Um dos maiores treinadores do Brasil de todos os tempos, e um dos mais subestimados, foi Ênio Andrade. Ênio era discreto, assistia ao jogo sentado no banco de reservas. Mas dali enxergava o que ninguém mais via. Ao chegar o intervalo, no recôndito do vestiário, mudava o time sempre para melhor, quase sempre em direção à vitória. Foi três vezes campeão brasileiro – com Grêmio, Inter e um improvável Coritiba.
Ênio chegava ao clube e analisava o que havia à disposição. Era com aquele material que trabalhava e com aquele material vencia. Como o cozinheiro que abre a geladeira, pega as sobras do jantar e do almoço do dia anterior, e com elas prepara um banquete.
Ênio não tinha uma fórmula de jogar. Ele jogava de acordo com as circunstâncias. É o melhor tipo de treinador.
Ainda não sei que tipo de treinador é Coudet. Sei que é trabalhador, que é concentrado, que é sério, que sabe o que quer. Mas não sei se ele é treinador de uma só fórmula, ou se pode se adaptar às contingências.
Ele estava indo muito bem, até a pandemia paralisar o mundo, no verão. Agora, voltou meio sem jeito, meio desasado. Jogou com os reservas no sábado, está certo, mas não jogou bem. Culpou o gramado, culpou o longo tempo de inatividade, pareceu aflito. Talvez esteja percebendo que não tem os ingredientes para fazer o prato que quer servir. Talvez tenha de mudar a receita.