Eu, falou bem de político, para mim, já paro de ouvir. Ou de ler. Vou tratar de outro assunto. Claro, não me refiro aí ao elogio pontual. "Isso o governo fez bem, essa é uma boa medida". Não. O que digo é essa devoção nojenta, abjeta e, o mais grave, burralda que o brasileiro tem aos políticos, fruto da nossa maldita cultura populista.
O político, por mais simpático e envolvente que seja, tem de ser sempre olhado com desconfiança. Políticos são pessoas perigosas, porque a matéria-prima com que lidam é o poder, e o poder, alguém já disse, atrai o pior e corrompe o melhor.
São raros os homens que não se deixam corromper pelo poder, e a corrupção, no caso, não é a locupletação mesquinha, o vulgar desvio de dinheiro ou de bens. É o aviltamento do espírito do serviço público, que é, exatamente, servir ao público e não a si mesmo, a um grupo, a um partido, aos amigos ou à família.
Essa degeneração, óbvio, acontece em gradações: quanto maior o poder, maior a possibilidade de depravação. O presidente menos repulsivo e mais construtivo que o Brasil teve, desde a redemocratização, foi Itamar Franco. Não por acaso: ele exerceu um mandato-tampão, esteve pouco tempo no cargo e, por isso, empalmou menos poder. Itamar tinha outras vantagens: não possuía o menor carisma, nem popularidade. Presidentes com popularidade e carisma são a desgraça do Brasil.
Miseravelmente, os brasileiros hoje estão divididos entre duas excrescências desse tipo. Não bastasse um, surgiram dois. Lula é um demagogo clássico que se transformou em caudilho. Com sua ânsia de poder, conseguiu destruir o próprio partido. Uma façanha, já que o PT foi o único partido realmente orgânico da história do Brasil.
Pior: com a pressão que exerceu nas últimas eleições, mantendo até o último momento uma proposta de candidatura que ele mesmo sabia ser impossível, Lula acirrou o antipetismo ao paroxismo e criou o corvo que lhe arrancou os olhos: Bolsonaro.
Faça um teste com Bolsonaro. Pense em alguma coisa, qualquer coisa, que seja filosoficamente ruim. Não pense na exceção, não faça ponderações, apenas pense na essência. Por exemplo: a morte. A morte é, filosoficamente, ruim. Mas nem sempre. Na guerra, quando o soldado mata o inimigo que quer lhe matar, ele faz algo bom para si mesmo. A morte também pode ser um alívio em certos casos de sofrimento. Mas isso não interessa. O que interessa é que a morte, em si, é ruim.
Pois bem.
Pense em qualquer coisa que seja filosoficamente ruim. Devastação ambiental. Preconceito sexual ou de gênero. Armas. Ditadura. Censura. Tortura. Violência. Autoritarismo. Qualquer coisa.
Agora pense de que lado Bolsonaro está em cada uma dessas coisas ruins que elencou. Contra ou a favor?
Se você não fizer considerações, se pensar apenas no cerne de cada conceito, constatará que ele está sempre a favor do que é ruim.
Talvez você diga que esse é um exame subjetivo. Eu lhe direi que é tudo que importa.
Mas seria primário afirmar que Bolsonaro é apenas uma pessoa de má índole. Trata-se de algo mais sofisticado. É que Bolsonaro, tendo sido sempre um homem de poucas luzes, foi forjado não numa cultura de afirmação, mas de negação de valores. Ele tem de ser contra todas as causas que (no entendimento dele) a esquerda defende. É assim que se comporta diante de qualquer questão, inclusive no combate ao coronavírus. Donde, a nossa falta de rumo na pior de todas as crises.
Assim é a política brasileira. Muita paixão, pouca razão. Políticos cheios de esperteza, seus apoiadores cheios de ingenuidade. Por conta deles, dos apoiadores, ou estamos em meio à burrice boa da esquerda ou à burrice má da direita. O que é pior? Não sei. Sei que ambas são burrices.