A hostilidade contra pesquisadores que atuam na pesquisa nacional sobre a prevalência do coronavírus na população brasileira não comprometeu o trabalho, mas fez com que ao menos 13 cidades ficassem de fora do estudo nessa primeira etapa, que teve início na quinta-feira (14).
A expectativa é de que o levantamento, coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), seja concluído nesta terça-feira (19) em 120 das 133 cidades que estavam no roteiro.
Em no máximo 48 horas depois de coletadas as informações os primeiros resultados já poderão ser divulgados pelo Ministério da Saúde. Uma das cidades já teve suas informações apresentadas. Em Manaus, os 10,3 mil casos oficiais seriam, segundo a pesquisa, 201,6 mil. Com isso, a letalidade cairia de 8,9% para 0,5%.
No Rio Grande do Sul, a mesma pesquisa teve três etapas e estimou que o Estado pode ter 24,8 mil infectados pelo coronavírus, sendo que, no momento da divulgação, na semana passada, havia menos de 3 mil notificados oficialmente.
Por falta de informações sobre a realização do trabalho por entrevistadores do Ibope em cidades de todo o país, algumas comunidades reagiram, chamando a polícia por receio de que se tratasse de golpe ou tentativas de assalto. Em pelo menos 15 municípios houve confusão, detenções e até destruição do material dos pesquisadores, comprometendo testes rápidos que foram financiados pelo Ministério da Saúde.
Conforme Márcia Cavallari Nunes, CEO do Ibope Inteligência, contratado via processo seletivo para fazer as entrevistas e aplicar nos entrevistados os testes rápidos para anticorpos da covid-19, nesta segunda-feira (18) a situação começou a ser normalizada, apesar de algumas cidades terem ficado fora do levantamento. Márcia destacou que o problema foi falha de comunicação das secretarias de Saúde dos Estados com as pastas dos municípios.
Em Rondonópolis (MT), por exemplo, a Polícia Militar foi chamada e chegou a deter um casal de pesquisadores. GaúchaZH confirmou com a prefeitura que autoridades não tinham conhecimento sobre a pesquisa. A Polícia Civil apura se os dois teriam se apresentado como médicos, conforme relatos de moradores. Conforme a a assessoria da Polícia Civil, a regularidade da situação está sendo verificada pela área da saúde e só depois será definido se haverá procedimento policial.
Já em Barra do Garças (MT), 15 pesquisadores foram detidos. Conforme a assessoria da polícia, os detidos "assinaram termo circunstanciado de ocorrência (TCO) por exercício de profissão ou atividade econômica sem preencher as condições a que por lei está subordinado o exercício e também por infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa".
A Secretaria de Saúde do Mato Grosso (SES-MT) informou que teve conhecimento da referida pesquisa pelo Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (Conass), na manhã da última quinta-feira (14), ou seja, somente depois de as equipes do Ibope já estarem nas ruas e de algumas das ocorrências terem sido registradas. Quando houve as detenções, as polícias buscaram informações com autoridades de saúde locais, que desconheciam o trabalho.
O Ministério da Saúde confirmou para GaúchaZH nesta segunda-feira que todos os Estados foram avisados sobre o estudo: "As Secretarias Estaduais de Saúde receberam ofício do Ministério da Saúde sobre a realização da pesquisa. A notificação também foi enviada aos Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e ao Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúdes (Conasems)".
As próximas duas coletas da pesquisa nacional estão previstas para ocorrer em 28 e 29 de maio e em 11 e 12 de junho. A meta do trabalho é testar 99,7 mil pessoas em 133 cidades. No Rio Grande do Sul, a quarta etapa da pesquisa local ocorrerá entre os dias 23 e 25 de maio. O estudo inédito tem sido usado pelo governador Eduardo Leite como um dos elementos que ajudam na definição de medidas de distanciamento social controlado.