Nesta segunda-feira ficamos velhos. Exatamente nesta segunda-feira, 7 de outubro de 2019. Fui informado desta data extraordinária pela reportagem escrita por Caio Cigana na superedição de Zero Hora do fim de semana. Cientistas sociais estimam que, em algum momento desse dia glorioso, a quantidade de gaúchos com mais de 60 anos de idade superará a dos que estão abaixo dos 14. Como os cientistas sociais conseguiram fazer esse cálculo, isso não sei, mas confiemos neles. Afinal, são cientistas, ainda que sociais.
A possibilidade de se fazer descobertas desse gênero sempre me fascinou. Porque, ainda que as coisas mudem lentamente, existe um instante em que se dá a troca de uma condição para outra. Quando a pessoa nasce, ela é um nenê. Depois, deixa de ser nenê e se transforma em criança pequena. De criança pequena, ela vira criança grande. Em seguida, adolescente, jovem, adulta e, por fim, velha. Você consegue identificar cada uma dessas condições só de olhar. Se o seu filho faz manha, você protesta:
– Tu não é mais um nenê, pra se comportar desse jeito!
Certo. Mas houve um dia em que ele deixou de ser nenê. O dia em que a fronteira foi ultrapassada. Um dia mágico.
Pense em você. Numa determinada manhã da sua vida, você se acorda, levanta-se da cama, caminha para o banheiro, olha-se no espelho e se espanta:
– Meu Deus! Acabei de ficar velho!
É o que está acontecendo conosco nesse histórico 7 de outubro de 2019. Deveria se tornar uma efeméride: "O Dia da Velhice Gaúcha". O que tem vários significados, e há uma entidade em especial que deve ficar atenta a eles: o Mercado.
O Mercado paga caríssimo por pesquisas para saber o que pensam os jovens. Pois bem, querido Mercado, os jovens agora são minoria.
O Mercado, você já sabe, é muito suscetível. Qualquer coisinha deixa-o nervoso. E ele tem mania de olhar só para os jovens. Ele sempre se pergunta: o que os jovens querem? Quais são os hábitos dos jovens? O Mercado paga caríssimo por pesquisas para saber o que pensam os jovens. Pois bem, querido Mercado, os jovens agora são minoria. Você tem de prestar atenção nos velhos. Tem de prestar atenção EM MIM, embora eu ainda não tenha chegado aos desejáveis 60 anos. Mesmo assim, considero-me um representante da maioria provecta do Rio Grande. E, por isso, posso dizer do que gostamos e o que queremos.
Não me venha, portanto, senhor Mercado, com Black Mirror ou Game of Thrones, nós gostamos de Jeannie é um Gênio, Viagem ao Fundo do Mar e Perdidos no Espaço. No máximo, Friends. Nós gostamos dos Flintstones, dos Jetsons e da Corrida Maluca. Nós gostamos dos desenhos de Hanna & Barbera, não de Peppa Pig! Nós queremos ir ao cinema e botar CDs para rodar. O que nós vamos ouvir nos CDs? PHIL COLLINS! Admito! Admitamos sem vergonha todos nós, velhos do presente e do futuro: nós ouvimos Phil Collins! Vamos cantar juntos: "Take a look at me noooooow…"
Sabe o que nós vestimos, ô, Mercado? Cardigãs! Gola olímpica! Sim, até gola olímpica usamos! Nós chamamos calça jeans de calça Lee. Nós ainda queremos tomar café da tarde e mexer o gelo do uísque com o dedo, nós queremos ler livros clássicos de mistério e jornal de papel. E tem mais: as nossas fotos não estão lá em cima, boiando na maldita nuvem. Estão coladas com toda segurança em um álbum! Vá se acostumando, Mercado, seu biltre: a novidade, a partir de hoje, é ser antigo.