O aumento da expectativa de vida caminhou de mãos dadas com a urbanização. As cidades, principalmente as maiores, precisam adaptar sua infraestrutura e serviços para se tornarem mais amigáveis aos idosos. Espaços públicos limpos para que possam se exercitar e socializar, calçadas niveladas e sinais de trânsito regulados para uma travessia mais lenta são apenas alguns exemplos de orientações do projeto Cidade Amiga do Idoso, elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, Veranópolis, na Serra, foi o primeiro município a adotar os seus preceitos e ser certificada, em 2017.
Mesmo que Veranópolis, com pouco mais de 26 mil habitantes, não espelhe exatamente o tamanho da tarefa das metrópoles, onde a vida é mais frenética e o trânsito, mais hostil, a cidade está adotando melhorias simples que poderiam ser replicadas, para favorecer o envelhecimento ativo, a qualidade de vida e a mitigação de riscos de pequenos acidentes que, para os idosos, podem ter consequências mais graves.
Está em andamento, por exemplo, a revitalização da principal avenida, a Osvaldo Aranha, com asfaltamento, rampas em todas as esquinas, que também terão bancos para descanso, e faixas de segurança elevadas ao nível das calçadas. Comércio e serviços receberam capacitação. Restaurantes são estimulados a usar letras maiores nos cardápios.
– Isso nasceu de uma pesquisa de campo para saber o que os idosos achavam importante que fosse trabalhado – diz a secretária de Desenvolvimento Social, Habitação e Longevidade, Adriane Parise.
Em Porto Alegre, idosos são as principais vítimas de atropelamentos fatais. Em 2018, foram 17 casos. Em 2019, até o último dia 24, 15. A agente de fiscalização da EPTC Luciana Farias Pereira, uma das responsáveis pelo Projeto Pedestre Idoso, conta que, em alguns pontos da cidade, foi regulado o tempo dos semáforos e adequada a faixa de pedestres para uma travessia contínua entre os canteiros e corredores de ônibus das avenidas. Um deles é o da Osvaldo Aranha, perto do Hospital de Pronto Socorro.
– Os motoristas podem reclamar, mas a população esta envelhecendo e precisamos de mais tempo para a travessia – diz Luciana.
Curitiba criou uma solução. Conta com 134 equipamentos instalados em semáforos que aumentam o tempo da travessia entre 30% e 40% para idosos e pessoas com deficiência. A identificação ocorre por meio da aproximação do cartão utilizado no transporte coletivo com a leitora instalada junto à coluna de pedestres, nas calçadas.
A influência do ambiente
A transformação dos espaços urbanos não deverá se limitar aos locais de grande movimento das cidades, avalia Layla Vallias, da Hype60+. Ela observa que os bairros também podem acabar sendo levados a uma reorganização, com mais comércios e serviços de vizinhança.
– Os idosos confiam nas pessoas que estão ali. O público maduro vai de três a cinco vezes no ponto de venda, seja supermercado ou farmácia, e não é só para comprar, mas para se exercitar e socializar. Já o jovem vai em média apenas uma vez por semana e realiza a compra como se fosse uma tarefa – compara Layla.
O professor de Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Emilio Moriguchi, que pesquisa sobre longevidade, reforça que o segredo para uma vida longa é multifatorial. Um estudo publicado na revista científica Nature apontou que 50% está associado ao estilo de vida (nutrição, atividade física, repouso, lazer etc), 20% ao ambiente, outros 20% à genética e 10% a avanços da tecnologia e da medicina. O ambiente, explica Moriguchi não é o lugar em si, mas as boas companhias, a interação social, as amizades e a família.
– Nas cidades menores, podem existir várias gerações na mesma residência, se comunicando de forma mais próxima, os jovens ajudando os idosos, compartilhando angústias. Nas cidades maiores, as famílias tendem a ser nucleares. Famílias em que as quatro gerações convivem juntas são mais longevas – diz o médico, cujo pai, Yukio Moriguchi, foi o fundador da geriatria no Brasil, na PUCRS.
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