As aspirações do público maduro prometem impacto profundo nos negócios, no trabalho e no consumo. Manter-se produtivo e competitivo vai exigir educação continuada. Cada vez mais produtos e serviços terão de ser adaptados para suprir as necessidades de um contingente que, em 2060, chegará a quase 75 milhões de pessoas no Brasil.
Uma parte das tendências foi identificada analisada pelo Cápsula, estudo encomendado pelo Grupo RBS sobre comportamento e as preferências da sociedade gaúcha. O capítulo dedicado à longevidade detectou que 93% da amostra pesquisada não se sente representada na publicidade. Ao mesmo tempo, crescem as chances de compra do produto ou serviço se eles forem oferecidos levando em conta o seu estilo de vida. Outra revelação é que saúde não é a única categoria de gasto em que imaginam despender mais nos próximos anos. Aliás, está em terceiro lugar. Em primeiro aparecem viagens e, em seguida, entretenimento. O recorte dedicado ao consumo analisou pessoas 50+.
Observador atento do novo cenário, Martin Henkel, fundador da SeniorLab, diz que várias áreas terão de se adaptar:
– Por exemplo, as embalagens dos produtos que as pessoas mais idosas consomem: abrir uma tampa de plástico de uma garrafa é mais difícil para uma mulher de 70 anos. São poucas as moradias que têm estrutura interna de mobiliário e aberturas adequados. Armários e camas em boa altura, pisos antiderrapantes nos banheiros. Cerca de 35% dos acidentes domésticos com idosos acontecem nos quartos e 25% no banheiro.
No turismo, a maior disponibilidade de tempo torna os 60+ cada vez mais cobiçados. Maior agência de viagens do país, a CVC tem notado o crescimento da participação. Em 2010, o público sênior anos representava 15% das vendas de pacotes. Ano passado, já atingiu 20%. O equivalente a 1 milhão de pessoas.
Na região das Hortênsias, é nítido o aumento do número de visitantes 60+, diz o presidente do SindTur Serra Gaúcha, Mauro Salles. Segundo ele, a rede hoteleira percebeu o movimento e vem apostando em acessibilidade, conforto e “carinho”. Uma das vantagens deste público é que viaja em grandes grupos, costuma permanecer mais dias no destino pela disponibilidade de tempo e prefere a baixa temporada. Salles comenta:
– Creio que, na baixa temporada, chegam a ser 40% do total de turistas e, na alta, entre 15% e 20%. E é o melhor tipo de público. Sem pressa, sem estresse, e ficam satisfeitos com coisas simples.
Na mobilidade urbana também há novidades. São Paulo passou a contar este ano com o aplicativo de transporte Eu Vô, voltado para idosos. Criado em 2018 em São Carlos (SP), tem também como diferencial a opção de acompanhamento. Com o serviço, de porta a porta, o cliente pode até ter a ajuda do motorista para realizar a tarefa pela qual precisou se deslocar. O número de clientes cadastrados chega a 2,4 mil.
Layla Vallias, sócia da consultoria Hype60+, lembra que uma pesquisa do Instituto Locomotiva identificou que a chamada economia prateada movimentou cerca de R$ 1,6 trilhão no país em 2018.
– O mercado voltado à longevidade é bem embrionário. Quatro em cada 10 pessoas reclamam da falta de produtos e serviços. Principalmente roupas e acessórios. Mas também alimentos, cursos, casas inteligentes – cita Layla, acrescentando que, por conhecer as suas necessidades, há grandes oportunidades para o empreendedor sênior preencher este vazio, ao mesmo tempo em que dribla resistências no mercado de trabalho.
A série Ideias para o Futuro 60+ tem apoio de Unimed Federação
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