Vamos deixar bem claro: a Lava-Jato foi a melhor coisa que aconteceu no Brasil desde o século passado. O país evoluiu graças à Lava-Jato, os brasileiros estão mais atentos ao que é feito com os recursos dos impostos, os políticos agora têm medo de cometer ilícitos e a relação entre o público e o privado se tornou menos promíscua. Antes, a corrupção era vista como inevitável. Nós resmungávamos e nos conformávamos. Hoje, não mais. Hoje, pelo menos, aprendemos a reclamar.
As revelações da comunicação entre Moro e o Ministério Público têm de ser debatidas e investigadas, e podem até arranhar a imagem do juiz, mas não devem abalar a Lava-Jato. A Lava-Jato é uma conquista.
É outro o problema que me inquieta: a própria inquietação. O Brasil nunca entra em ritmo de normalidade. O Brasil nunca vira um Canadá, aquele lugar imenso e quase vazio, onde quase nada acontece.
Talvez você ache monótono, mas é só com monotonia, só com a repetição enfadonha de dias mais ou menos iguais que uma sociedade se desenvolve.
Você, quando vai comprar carro novo ou fazer uma reforma na sua casa, do que você precisa?
De alguma estabilidade.
Você tem de saber que provavelmente continuará empregado e, assim, poderá pagar as dívidas contraídas.
O empresário, para abrir uma nova filial ou para contratar mais funcionários, precisa sentir o mesmo. Se não houver segurança, ele não vai se arriscar.
Só tolos e visionários se arriscam quando não há segurança.
O Brasil não dá segurança a ninguém. Nosso maior período de estabilidade democrática, desde o golpe de 1930, foram os 20 anos que se estenderam do Plano Real aos protestos de 2013. Não por acaso, nesses 20 anos houve sólida prosperidade.
Agora me diga: o que existia de coincidente entre os governos Itamar, Fernando Henrique, Lula e os dois primeiros anos de Dilma Rousseff? O que os igualava?
Respondo:
O Congresso estava pacificado.
No começo dos anos 1990, logo após a renúncia de Collor, Itamar Franco reuniu as principais lideranças políticas do Brasil e avisou:
– Se vocês não me apoiarem, não assumo.
Todos apoiaram. Itamar só encontrava oposição, realmente, no PT, então um partido bem menor do que se tornou 10 anos depois. Aquela união inédita deu tranquilidade para a implantação do Plano Real e para a solução do maior problema do país, na época, a inflação. Foi assim que Fernando Henrique assumiu e assim que governou.
A eleição de Lula foi encarada como uma decorrência natural do processo político brasileiro. Era chegada a hora dele. Alguns tucanos chegaram a reclamar que até Fernando Henrique o apoiou, veladamente. E Lula dominou o Congresso com ainda mais serenidade. Estavam todos com ele: Renan, Sarney, Collor, Maluf, todos. A oposição, feita pelo PSDB, era débil e pálida.
A ruptura se deu no segundo ano do governo Dilma, por várias razões, que não interessam aqui. O que interessa é o que significa o Congresso. Significa não um problema, como pensam muitos; significa a solução. Seguirei adiante no tema, mas, por ora, grito cá a minha convicção: só o parlamentarismo corrigirá o rumo do Brasil. O presidencialismo, está provado, fracassou. Não funciona conosco. Somos parlamentaristas. Só que ainda não sabemos.