Arthur Hailey foi um escritor inglês que se especializou em escrever romances que se passavam dentro de um único ambiente. Alguns de seus livros viraram filmes de sucesso, como Aeroporto, que tinha uma belíssima música-tema composta por um sujeito chamado Vincent Bell. Não conheço outras obras dele, mas essa Airport Love Theme vale um tíquete para a imortalidade. É uma melodia suave, que faz o ouvinte sentir algo entre a nostalgia e a grandiosidade do que deixou de existir. Uma música perfeita para quem olha com saudade antecipada o avião que parte.
Hailey também escreveu Hotel e Hospital, que li, e um intitulado, curiosamente, Zero Hora, que não li, mas deveria. Para escrever esses romances, ele passava quase um ano pesquisando a respeito dos locais que ia retratar. E era justamente isso que chamava atenção em suas histórias: os pormenores que ele relatava acerca de cada profissão de seus personagens, de cada atividade que exerciam.
O que eu gostava nos livros de Hailey não era exatamente o seu estilo, mas essa ideia de que há lugares pequenos que são o mundo todo. Tudo o que acontece ali é importante para as pessoas que ali estão. Mais até: só o que acontece ali é importante para as pessoas que ali estão.
Lembro de quando o homem pisou na Lua pela primeira vez. Faz tempo, eu era pequeno, mas lembro. Nós assistimos à façanha em torno do Telefunken preto & branco do meu avô, todos muito excitados, menos a minha avó, que se levantou para ir à cozinha a fim de preparar um pudim de leite condensado. Alguém a chamou e ela respondeu que o pudim de leite não podia esperar. E é óbvio que ela tinha razão – prefiro o pudim de leite da minha avó do que ver o homem pisando na Lua.
As coisas pequenas, do dia a dia, têm mais valor na sua vida do que as coisas grandes.
Claro que, mais tarde, é possível que as coisas grandes venham a mudar as pequenas, mas nós não vamos pensar nisso agora. Agora nós vamos é comer esse pudim de leite.
Gostaria de escrever um romance mais ou menos no estilo daqueles que escrevia Arthur Hailey. O meu se passaria em uma redação de jornal. Numa redação de jornal, 200 pessoas convivem o dia inteiro, sabem das vidas umas das outras, se relacionam, se envolvem, às vezes brigam, às vezes formam pares. Dizem, inclusive, que jornalista só se reproduz em cativeiro, o que, um pouco, é verdade.
O meu romance seria de mistério. Morte na Redação. Ou: A Redação da Morte. Quem sabe: Mistério na Redação. Algo assim. Começaria com o diretor recebendo um e-mail estranho, que dizia o seguinte…
Mas não vou dar spoiler do meu próprio romance que ainda não foi escrito. Até porque tenho de ficar por aqui. Amanhã, sigo. Por enquanto, só quero ressaltar que, como diz Caetano, a coisa mais certa de todas as coisas não vale um caminho sob o sol. E é isso: o caminho ensolarado, o brinde com um amigo, o beijo do filho, o grito de gol e o pudim de leite valem mais do que conquistar a Lua.