A eleição de Bolsonaro foi um sucesso da democracia e um fracasso do Brasil. Um sucesso da democracia porque o sistema funcionou à perfeição.
O eleitor queria, precisamente, um homem que odiasse o PT de forma genuína e figadal e que enfrentasse as questões nacionais sem sutilezas. O eleitor não aceitava mais contemporizações, ele ansiava por soluções rápidas e brutas, como o pai que pune a indisciplina do filho com uma surra.
Esse homem é Bolsonaro, personagem que jamais poderá ser acusado de excesso de sofisticação. O símbolo da campanha de Bolsonaro foi a arminha feita com os dedos em ele deitado. É quase inacreditável que um candidato a presidente da República tivesse como maior símbolo de seu projeto para o país a liberação de armas, mas isso aconteceu e, o mais inacreditável, ele se elegeu.
Eleito, Bolsonaro não logrou o eleitor. Ele tenta, mesmo, fazer as coisas como disse que ia fazer. E é aí que fracassa o Brasil. Porque as coisas não podem ser feitas desta forma. O Brasil, a história o prova, é um país em que os problemas só são resolvidos com ponderação e convencimento.
Sei que não parece assim. Hoje, o Brasil parece um país de extremos: ou você é petista ou bolsonarista. Trata-se de uma ilusão, acentuada pela atividade nas redes sociais. As redes sociais produzem mais miragens do que retratos da realidade, porque elas, as redes, são habitadas por quem vive nos limiares da opinião.
Falando assim, passa a impressão de que sou infenso às redes. Não sou. Mas sei que a interpretação do que nelas acontece é exagerada. As redes sociais são apenas instrumentos de comunicação. Servem para dar ideia de uma parcela, não mais do que uma parcela, da vida real. Se forem supervalorizadas, distorcem a verdade e submetem o todo à parte.
Na verdade, a grande massa dos brasileiros não está em nenhuma das duas pontas. A grande massa dos brasileiros anseia por parcimônia. Arrisco-me, inclusive, a fazer uma previsão temerária: o próximo presidente da República será um extremista da moderação. Um Tancredo Neves. Um Itamar Franco.
Tenho consciência de que cometer previsões políticas com tanta antecedência é quase uma excentricidade, mas fiz outras no passado. Por exemplo: há dois anos e meio, escrevi uma coluna em que, já no título, pedia ao eleitor: “Não vote em Bolsonaro”. Porque temia que ele fosse eleito e que o Brasil, em um momento crítico, tivesse um presidente incapaz de enfrentar suas graves questões, questões que exigem o tato e a sensibilidade que lhe faltam.
Pois bem. Bolsonaro foi eleito, e a situação do Brasil se deteriora a cada dia. Qual é a saída? A Bolsonaro restam ainda três anos e meio de mandato e o país não suportaria mais outro impeachment. Bolsonaro é o presidente e teremos de nos haver com isso.
Como?
É chegada a hora de dar um fim na nossa adolescência. É chegada a hora da nossa maturidade. O Brasil precisa de um governo de coalizão nacional, formado por pessoas de pouco arroubo e muito critério. Talvez os militares possam convencer Bolsonaro a buscar apoio em outros estamentos da sociedade e dar menos relevância a arrebatamentos ideológicos. A cercar-se de pessoas que disponham das qualidades que o eleitor não procurou nele, quando o elegeu, mas de que o país necessita agora: circunspecção, comedimento, lhaneza e, mais do que tudo e acima de tudo, bom senso.
O Brasil clama por bom senso.