Fiz uma descoberta que me deixou chocado quando vim morar nos Estados Unidos: ninguém conhece Porto Alegre.
Ninguém.
Quando os americanos sabem que sou brasileiro, se interessam, ficam curiosos, perguntam de que parte do país venho. Respondo, sorrindo:
– Porto Alegre!
E eles:
– Ah… Onde é?
– No extremo Sul – explico, agora agastado.
É sempre assim.
Como é que pode não saberem nada sobre Porto Alegre, a smile city?
Muitas vezes, lembro a eles que aqui, em Boston, e em outras regiões do país funciona a mui apreciada churrascaria Fogo de Chão, que eles chamam de “Fogo de Cháo”.
– Essa churrascaria maravilhosa é da minha cidade! – digo, orgulhoso.
Eles:
– Ah…
Outra arma que saco é falar da mulher do Pelé deles, o Tom Brady: ninguém senão a dourada e esguia Gisele Bündchen, que eles chamam de “Djisell”. Sei que, tecnicamente, ela nasceu em Horizontina, mas não me prendo a esse pormenor e informo:
– Essa mulher maravilhosa é da minha cidade!
Aí eles:
– Ah…
Revoltante.
Do Brasil, os americanos, em geral, ouviram falar de Rio, São Paulo e da Amazônia. Só. Nada mais.
Dos nossos compatriotas, é inegável que Bolsonaro tornou-se conhecido, mas de uma forma não exatamente positiva. Os americanos, quando se referem a ele, é de um jeito brejeiro. Querem saber, com uma ponta de divertimento, como está se saindo o “Brazilian Donald Trump”.
O fato irretorquível é que a dupla Gre-Nal tem grande importância para Porto Alegre. Mais, até, do que imaginam os seus torcedores. Porto Alegre se torna maior com Grêmio e Inter.
O nosso produto que realmente tem ótima imagem nos Estados Unidos é a Seleção Brasileira. Essa, sim, é motivo de admiração. O futebol brasileiro ainda é muito respeitado no mundo. Tanto que, todas as vezes que encontrei alguém que já ouviu falar em Porto Alegre, foi por causa do futebol. Por causa do Grêmio e do Inter. É certo que esses quase sempre são estrangeiros, porque os americanos são meio distraídos em assuntos de soccer, mas não são poucos os que lembram, por exemplo, que o Grêmio disputou o Mundial com o Real Madrid em 2017.
O fato irretorquível é que a dupla Gre-Nal tem grande importância para Porto Alegre. Mais, até, do que imaginam os seus torcedores. Porto Alegre se torna maior com Grêmio e Inter. Por isso, quando o Grêmio montou aquele belo time, há três anos, torci para que a direção do clube compreendesse que havia, então, uma oportunidade rara de alcançar a grandeza mundial. E os dirigentes bem que tentaram, houve esforço, competência e bom senso, mas talvez tenham faltado duas ou três pitadas de ousadia para dar o tempero três estrelas do Guia Michelin.
Vejo o Grêmio, agora, se desmanchando aos poucos, repetindo fórmulas, aceitando os reveses com uma conformidade que antes não havia. Mas ainda há boas qualidades no grupo, ainda há uma base. Com dois ou três acréscimos, a grandeza pode voltar ao horizonte. Então, talvez, eu possa um dia me gabar para um estrangeiro:
– Esse time maravilhoso é de Porto Alegre!
O supertime
O Grêmio clássico, o time que seduziu e submeteu o Brasil, aquele sobre o qual, um dia, escrevi que jogava um estilo de futebol único na história do Rio Grande, aquele Grêmio formava assim: o grande Marcelo Grohe protegido por uma dupla de zagueiros que poderia ajudar os Vingadores a derrotar Thanos – Kannemann e Geromel. Diante deles, um centromédio de força e habilidade, que, com três passadas, atravessava a grande área: Wallace. Nos lados, a segurança de Cortez e a agressividade de Edilson. Na armação, Maicon no auge, dando tapas de luz na bola. No centro do ataque, Luan e Douglas, técnica que se derramava, malícia que faiscava. E, nas pontas, duas usinas, dois motos-contínuos: Ramiro e Pedro Rocha.
Os reservas desse timaço, imagine, eram Bolaños e Éverton.
Pouco sobrou de tudo aquilo. Mas sobrou. O Grêmio pode se refazer em cima do que ainda tem. Com trabalho. O Grêmio precisa de trabalho.