O primeiro diretor de cinema que viu um teste de Ava Gardner, assim que ela terminou a apresentação, bateu palmas de entusiasmo e festejou:
– Ela não sabe falar! Ela não sabe atuar! Ela é maravilhosa!
Ava achou graça. Ela tinha senso de humor. E, sim, sabia falar e sabia atuar. Ava Gardner reuniu numa só pessoa quase todos os predicados necessários para encantar outros seres humanos. Chamavam-na de “o animal mais belo do mundo”, e era, mas não só isso: era também cheia de sagacidade. Algumas de suas frases famosas mostram essa qualidade:
Para mim, Irina Shayk pode ser a mulher mais bonita do mundo, para você pode ser a Lady Gaga. Tudo bem, ambos temos razão.
“Quando eu perco a calma, queridos, vocês não vão encontrá-la em lugar algum”.
Ou:
“O que eu realmente queria dizer sobre o estrelato é que ele me deu tudo o que eu nunca quis”.
E ainda:
“Desejo viver até os 150 anos, mas, no dia em que morrer, quero que seja com um cigarro numa mão e um copo de uísque na outra”.
Essas mulheres que bebem uísque. Você sabe como elas são.
Ava Gardner, como Irina Shayk, sobre quem escrevi na última coluna, era morena e via o mundo por meio de olhos azuis faiscantes. Ava amou profundamente, traiu intensamente e enlouqueceu cruelmente Frank Sinatra. O romance deles foi… bem… hollywoodiano. Frank não se cansava de amá-la porque Ava tinha estofo, além de embalagem.
Um dos melhores filmes de Ava foi baseado em um conto de Hemingway, As Neves do Kilimanjaro, com Gregory Peck. É um filme antigo, um clássico, daqueles de se ver do fundo do sofá, num sábado à noite, com um tinto de um lado e a mulher amada do outro.
Essas neves do Kilimanjaro eram para ser eternas, mas estão diminuindo a cada ano. Não apenas porque o globo terrestre está aquecendo por fora, mas porque o Kilimanjaro, que é um vulcão, está aquecendo por dentro.
Queria muito ver o Kilimanjaro antes de as neves secarem. Um dias desses, irei lá. Mas é longe, o Kilimanjaro fica na Tanzânia, país do Serengeti, onde os leões enfrentam bandos gargalhantes de hienas e os leopardos caçam gnus. Na Tanzânia há o grande Lago Vitória, assim nomeado em homenagem à rainha da Inglaterra. Na Tanzânia, os ratos, ao contrário do que ocorre em Nova York, são admirados.
Sim, surpreso leitor, na Tanzânia eles criam, alimentam e abrigam ratos. Por quê? Porque, lá, os ratos são treinados para farejar e descobrir as milhares de minas terrestres que estão espalhadas pelo solo, enterradas que foram por soldados durante as infindáveis guerras civis do país.
Levei dois dias para fazer esse caminho, que começou na mulher mais linda do mundo e terminou nos ratos. Cheguei, enfim. E conto que vi filmes sobre os ratos da Tanzânia e me espantei. As pessoas lhes dão comida na boca e os acarinham como se fossem cachorrinhos. Eles amam os ratos na Tanzânia. Eles os consideram até bonitos. O que mostra que a beleza é relativa. Para mim, Irina Shayk pode ser a mulher mais bonita do mundo, para você pode ser a Lady Gaga. Tudo bem, ambos temos razão. Depende de quem está olhando. Ou ouvindo, no caso de quem aprecia a inteligência e o bom humor. Por isso, há uma ferramenta que costumo usar ao ver, nas redes sociais, certas mulheres que acho belas: o botão do mute. Prefiro não ouvir do que me desiludir.