Vitória e Elizabeth II, as monarcas com mais anos no trono britânico, se converteram em rainhas inesperadamente e em uma idade muito jovem, e reinaram em épocas de grandes mudanças.
Elizabeth II vai superar a tataravó em 9 de setembro, quando completará 63 anos e 216 dias no trono, um reinado notável, que começou em 1952, quando a Grã-Bretanha se recuperava da Segunda Guerra Mundial.
Quando Vitória nasceu, em 1819, ela, como Elizabeth, parecia uma opção pouco provável para herdar o trono.
No entanto, a jovem princesa, que se converteu em rainha em 1837, pouco depois de completar 18 anos, emprestou seu nome a uma época, a Era Vitoriana, marcada pelas invenções e as descobertas, assim como por uma perspectiva moralista da vida.
Foi um momento de apogeu para a Grã-Bretanha, com grandes avanços industriais, científicos, culturais e imperiais.
O sentido de dever de Elizabeth se baseia em sua ilustre antepassada.
"A grande semelhança entre Elizabeth e Vitória é que as duas são mulheres excepcionalmente meticulosas, de caráter forte, decididas a trabalhar o mais corretamente possível", explicou à AFP o escritor Andrew Gimson, autor de "Breves Vidas dos Reis desde 1066".
O rigor moral vitoriano
Filha única do príncipe Edward, quarto filho do rei George III, Vitória ocupava o quinto lugar na linha de sucessão quando nasceu.
Mas os irmãos mais velhos de Edward, incluindo os sucessores de George III, George IV e William IV, morreram sem filhos legítimos sobreviventes, deixando o trono para Vitória.
Nascida no Palácio de Kensington em 24 de junho de 1819, Vitória foi criada sob o "sistema de Kensington", uma série de regras inventadas por sua mãe, que a manteve isolada e constantemente vigiada.
Ao herdar o trono, ela trabalhou para mudar a imagem da monarquia. A reputação da instituição "havia caído muito por culpa de seus tios brigões, que se comportavam da pior maneira possível", disse Gimson.
"Vitória se conectou com a nova moralidade da classe média, o rigor moral que foi surgindo na década de 1830", completa.
Ao se tornar rainha, ela foi apadrinhada pelo primeiro-ministro, o visconde Melbourne, e sua mãe dominante ficou de lado.
Ela se casou em 1840 com o primo alemão, o príncipe Albert de Saxe-Coburg e Gotha, por quem teve uma grande paixão.
Sobreviveu à primeira de várias tentativas de assassinato no mesmo ano. Quando Albert morreu, em 1861, permaneceu de luto, se afastou da vida pública e vestiu roupas pretas pelo resto da vida.
Formou então um estreito vínculo com o criado escocês John Brown, nos anos 1860 e 70.
Em meio a um crescente sentimento republicano, Vitória começou a aparecer em público outra vez a partir da década de 1870.
Seus nove filhos se casaram com a realeza continental, o que a tornou a "avó da Europa".
Suas bodas de ouro no trono, em 1887, e o jubileu de diamante - 60 anos - em 1897 foram celebrados em todo o império.
Estados, cidades, montanhas, lagos, ruas, praças, edifícios e monumentos de todo o mundo ainda levam o seu nome.
Expansão britânica e contração
"Com Vitória, o Império britânico se expandiu até abarcar uma enorme extensão e isso lhe valeu este grande título de imperatriz da Índia. O poder britânico estava em seu auge", disse Gimson.
"Com Elizabeth II, o Império britânico desapareceu. Ela e toda a nação britânica tiveram que enfrentar um período de relativa decadência, embora o nível de vida tenha subido de forma colossal", acrescentou.
O início da vida de Elizabeth II se assemelhou à de Vitória. Depois de uma juventude um pouco enclausurada, se casou com o príncipe Philip, seu primo em segundo grau.
O grande estadista Winston Churchill foi o primeiro dos 12 primeiros-ministros britânicos que atuaram durante seu reinado e um mentor.
Vitória se envolveu muito mais em política, a um ponto que Elizabeth teria considerado pouco prudente.
O colunista do Times Mathew Parris disse que Elizabeth II trabalha muito mais duro que Vitória, mas que pouco mudou desde então.
"O princípio que norteia continua sendo que não se deve permitir que a luz do dia arruine a magia" da monarquia, afirmou.
Enterrada em Windsor, a oeste de Londres, Vitória morreu em 1901 aos 81 anos, mas Elizabeth segue em plena atividade aos 89.
A atual rainha contou com o apoio firme do príncipe Philip, de 94 anos, enquanto Vitória tinha 42 anos quando Albert morreu.
* AFP