Segunda-feira (25) eu ouvi no Jornal Nacional o porta-voz da presidência dizer que o governo vai festejar o aniversário do golpe de 64 e que o Bolsonaro considera que não houve golpe, não houve ditadura no Brasil.
A opinião do Bolsonaro não interessa! Ele não vai mudar o fato histórico, houve ditadura no Brasil. A ditadura no Brasil não só derrubou um presidente eleito constitucionalmente como fechou o Congresso. Ela caçou e prendeu lideranças, ela censurou a imprensa, censurou as artes também, tinha músicas censuradas, peças de teatro censuradas, filmes censurados, ela matou e ela torturou. Torturou! As pessoas eram torturadas pelo Estado brasileiro na ditadura.
Além disso, foi uma ditadura incompetente administrativamente, ao contrário do que muita gente acredita hoje porque não conhece a história. As pessoas, por exemplo, falam de obras que a ditadura fez. Eu vou citar duas obras que a ditadura fez: Angra, que está há 50 anos sendo feita, começou com o Geisel. A ditadura tinha a intenção de fazer bomba-atômica no Brasil. E a Transamazônica, estrada que a floresta comeu. Então, foi uma ditadura incompetente, além de ser sanguinária, além de ser cruel, ela foi incompetente.
A inflação começou no governo Geisel, a grande inflação galopante de que o Brasil levou anos para conseguir se livrar. O desemprego começou no governo Geisel - aliás, um governo extremamente incompetente na sua administração, e isso aí quem diz não sou eu, são os ex-ministros do Geisel. É só ler, os ministros que trabalhavam na época diziam da incompetência administrativa do governo. Mas o pior de tudo isso é que a ditadura constrói uma cultura distorcida da forma como o cidadão encara o Estado, porque ele encara o Estado acima dele, quando na verdade o cidadão tinha que entender que ele faz parte do Estado, é uma coisa só. E o cidadão enxerga o Estado acima dele porque ele precisa do privilégio, precisa da benesse: pistolão, como se dizia na época.
O Bolsonaro falando isso sobre ditadura, que “não houve ditadura”, eu quero então informar uma coisa para o Bolsonaro, presidente eleito do Brasil: ele só é presidente eleito do Brasil porque tem democracia, pois no Exército ele não passou do cargo de tenente, ele é capitão reformado. Ele não foi major, ele não foi coronel e ele nunca seria general. Então ele não seria presidente do Brasil se houvesse ditadura ainda. E as pessoas, os “bolsonaristas”, os puxa-sacos do governo, os bajuladores do governo que tem aos montes aí, vão dizer assim; “ah, tu quer o mal do governo!”. Não, eu quero o bem do governo, porque eu quero o bem do Brasil, eu quero que esse governo dê certo porque eu quero o bem do Brasil.
E a primeira coisa para um governo dar certo eu vou dizer aqui: nenhum governo na história do mundo deu certo agindo por conflito, por provocação, como faz esse governo aí. Se fizer assim, vai ser ruim para o Brasil e eu não quero o mal do Brasil. E esse tipo de manifestação é importante porque faz parte da história do Brasil. Tem gente aí que tem parentes, amigos que sofreram, que morreram e que não foram nem encontrados ainda. Então não se pode brincar com esse tipo de coisa no Brasil.
Ouça abaixo a íntegra do comentário de David Coimbra no programa Timeline: