Gosto da ideia de o Grêmio erguer uma estátua para o Renato Portaluppi. Há quem diga que essas homenagens só deveriam ser póstumas, e até entendo o argumento. Afinal, enquanto as pessoas estão vivas há chance de conflito. Quer dizer: o Renato pode sair do Grêmio e se desentender com dirigentes do futuro. Mas o que importa é o que ele já fez. O que ele já fez merece estátua?
Então, estátua!
Se a homenagem tem de ser feita, que seja em vida. Assim o homenageado pode realmente usufruir da consagração.
Certa feita, a Câmara de Vereadores do Alegrete decidiu homenagear o poeta Mario Quintana com um busto de bronze. Quintana recusou, alegando poeticamente:
“Um erro em bronze é um erro eterno”.
Bonito, mas impreciso. Quantas estátuas já foram quebradas, derrubadas ou derretidas porque o homenageado caiu em desgraça?
Lembro daquela imagem do final da Guerra do Golfo, quando os iraquianos laçaram a estátua de Saddam Hussein e a puseram abaixo. Anos depois, vi a entrevista de um dos homens que participaram da manifestação. Ele havia sido mecânico das motos de Saddam Hussein e o odiava porque o regime executara metade da sua família. Mas agora, passado tanto tempo, dizia estar arrependido de ter ajudado a botar a estátua abaixo.
– Roubaram o Iraque dos iraquianos – observou. – Esses que estão aí são piores do que Saddam.
Ou seja: a estátua foi erigida, depois foi derrubada e depois queriam erigi-la de novo. Nem a morte garante uma reputação ilibada. Tudo pode mudar, mesmo que a pessoa já não esteja mais viva para incomodar.
Veja o caso de Michael Jackson: anos após sua morte, lançaram um filme com pesadas denúncias contra ele. Resultado: rádios e TVs americanas estão se recusando a executar as músicas de Michael Jackson porque ele seria um pedófilo etc. Bastou Michael Jackson morrer para acabarem com ele. É muito arriscado morrer hoje em dia.
Por isso, se a homenagem tem de ser feita, que seja em vida. Assim o homenageado pode realmente usufruir da consagração.
Eu, se tivesse de levantar estátuas por aí, o faria para dignificar algumas mulheres em seu tempo de glória – estou me referindo a atributos físicos, obviamente. Por que não imortalizar a beleza humana?
Por exemplo: dizem que a mulher mais bela da Grécia foi a cortesã Frineia. Ganhava tanto em troca de seus favores sexuais, que, quando Alexandre devastou Tebas, ela se ofereceu para reerguer os muros da cidade, desde que se inscrevesse neles o seguinte: “Destruído por Alexandre, restaurado por Frineia, a hetera”.
As autoridades tebanas, moralistas que eram, recusaram a doação.
Mais tarde, Frineia foi acusada por algum despeitado de profanar os deuses e levaram-na a julgamento. O processo ia mal, ela estava prestes a ser condenada, quando seu advogado de defesa tomou uma medida extrema: chamou-a diante do júri e, de um repelão, rasgou-lhe o manto, pondo-a nua. Os julgadores ficaram boquiabertos e disseram, em grego:
– Oooooooh…
Ao que o advogado acrescentou:
– Alguém com tal beleza pode fazer algo realmente ruim?
Frineia foi absolvida. Não é uma lástima que não exista uma estátua que reproduzisse sua beleza?
É. Claro que é.
Eu, se me fizerem uma estátua, que seja agora, mas não peguem o modelo de hoje, e sim o de alguns anos atrás, quando estava mais magrinho. Façam-me, por favor, em uma mesa de bar, com um copo de chope na mão, rindo e brindando com os amigos. Não há nenhuma conquista esportiva ou façanha política na cena, não há vitória militar nem versos imortais, mas boas noites de amizade também podem ser homenageadas, não? Renato Portaluppi concordaria com isso.