Vou contar algo que você talvez não vá acreditar: o Peninha é boa pessoa. Não digo isso como elogio, e sim como denúncia, porque ele tenta se fazer de mau, ele às vezes até engana alguns incautos, mas, na verdade, seu peito guarda um grande e açucarado coração.
Neste momento, ele deve estar furioso porque revelei esse segredo que lhe é tão caro. Não me importo. Repito: o Peninha é um cara legal.
Nesse livro que lança, o Peninha dá várias pistas do bom caráter que tenta de todas as formas dissimular.
Você sabe de quem estou falando: não é do primo do Pato Donald, é do jornalista e escritor Eduardo Bueno, que hoje lançará seu livro de crônicas na flamante livraria Pocket Store, no Moinhos de Vento, a partir das 18h.
Peninha foi Eduardo Bueno até os 19 anos, quando pisou na Redação de Zero Hora pela primeira vez, para trabalhar na histórica Editoria de Esportes do jornal. Então, um igualmente histórico editor, Mauro Toralles, o famoso “Boró”, deitou os olhos nele e, de imediato, viu a semelhança com o repórter de Patópolis.
– É o Peninha! – apontou o Boró.
Todos olharam e viram: era o Peninha, e Peninha ficou sendo.
Os textos que o Peninha selecionou para o livro que será lançado nesta quinta começaram a ser escritos não muito depois desse episódio, numa época em que ele poderia se apresentar como “Little Feather”, porque já havia sido capturado pela cultura contracultural americana, os textos vertiginosos de Jack Kerouac, a estranha união entre a poesia rascante e o som manemolente de Bob Dylan, todo aquele country, todo aquele blues, todo aquele rock’n’roll, mais um pouco de drogas e, por que não?, algum sexo.
Peninha queria isso, queria ser um deles, queria ser debochadamente indiferente e ironicamente superior como seus ídolos americanos. Ele até se apresenta assim, imodesto e imoderado, hiperbólico e desdenhoso, como se não desse importância para os seres inferiores que nasceram do lado de baixo do Equador. Mas é tudo mentira. O Peninha se importa, sim. Tanto que dedicou parte de sua vida a pesquisar, compreender e escrever sobre os nossos tristes trópicos, sobre como se formou e se deformou o nosso amado e vilipendiado Brasil. Tanto que dedica parte de seus dias a pensar, falar, gritar, esbravejar, chorar, sofrer, brigar e torcer pelo Grêmio. Nesse livro que lança, o Peninha dá várias pistas do bom caráter que tenta de todas as formas dissimular. Lá pelas tantas, o leitor esbarra em uma crônica em que o Peninha demonstra preocupação com um parque de Canela, na serra gaúcha. E, em outra, ele lamenta a extinção dos periquitos-da-carolina, ocorrida cem anos atrás.
Um homem que chora a extinção dos periquitos-da-carolina é tudo, menos o beat displicente que o Peninha gostaria de ser. Portanto, não se iluda com a verborragia delirante do Peninha, nem com a sucessão interminável de brincadeiras que ele faz quando fala, algumas de gosto arrevesado, que já lhe causaram certos problemas, não se confunda tampouco com seu gremismo explosivo nem com sua grandiloquente mania de grandeza. Faz parte do seu show. O Peninha, acredite, é bonzinho.