Sinto a maior simpatia pelas pessoas que trabalham em telemarketing e nas centrais de atendimento das empresas. Gosto delas porque ninguém gosta delas. Elas ficam ao telefone o dia inteiro, tentando argumentar com estranhos e não poucos desses estranhos as destratam, desligam ao primeiro alô, gritam com elas, são mal-educados. Imagine: você se esforça para trabalhar honestamente, para sobreviver e sustentar sua família, e passa o dia sendo insultado sem nem poder reagir. Em que estado você chegaria em casa à noitinha, no fim da árdua jornada?
Pensando nisso, sou solidário com os operadores de telemarketing. Recebo uma dessas ligações e tento ser cordial, até atencioso. Se não posso falar, peço desculpas e digo para a moça ligar outra hora. Ou seja: sou um cara legal. O problema é que esse comportamento me faz cair em ciladas. Aqui, nos Estados Unidos, eles têm gana por pesquisas. Pesquisam sobre tudo, o dia todo. No começo, me comprazia em ser pesquisado. Achava que minha opinião era importante para eles. Mas eles exageram. Outro dia, fiquei 26 minutos respondendo a uma pesquisa. VINTE E SEIS MINUTOS! Quando enfim pude desligar, levantei-me, fui à geladeira e abri uma cerveja. Sentei-me sozinho na sala, bebendo, olhando para o branco da parede, sem conseguir pensar em nada. Aqueles 26 minutos tinham transformado meus nervos em mondongo.
Mas o pior é quando me liga, por exemplo, o representante da TV a cabo e propõe melhorar o meu pacote. Gosto do meu pacote como está, mas o homem informa que há lançamentos extraordinários que não posso perder, em seguida ele diz quanto estou pagando por mês e acrescenta:
– O senhor vai ganhar tudo isso que estou descrevendo pagando apenas mais três dólares! O senhor pode pagar mais três dólares por mês, não pode?
Aí repondo que sim, claro que posso, o que é que ele está pensando?
– Ah, que bom! Então vai ser um ótimo negócio para o senhor!
É assim que minha conta de TV a cabo aumenta todos os meses.
Tenho de encontrar uma maneira de ser gentil com esse pessoal sem ouvir o que eles querem me falar, nem pesquisadores, nem vendedores, nada, porque, se eles falam, caio na armadilha. Sou um pato, admito. O pior é que, em geral, não preciso das coisas que eles me vendem. Porque, além de pato, sou um homem simples, prefiro o conforto à ostentação. Voos na classe executiva? Decerto que gostaria. Vinhos de US$ 100 e jantares de US$ 200? Por que não? Mas não conheço marca de carro, de roupa ou de relógio. Para falar a verdade, nem tenho relógio ou carro e tampouco compro roupa – quem compra para mim é a Marcinha. Dispenso todas essas ofertas e vantagens, portanto.
Dias atrás, me superei: estava assistindo TV e vi o comercial de uma mangueira de jardim. É uma supermangueira, resistente, fortíssima, capaz de rebocar um caminhão, indestrutível como a teia do Homem-Aranha e igualmente flexível: você pode guardá-la dentro de um copo de uísque. Pensei: mesmo que não haja jardim na minha casa, tenho de comprar essa mangueira! E já ia ligando para o número que deram na TV, mas naquele momento explodiu na tela outro comercial: de um spray que veda qualquer brecha ou vazamento para sempre e com segurança total. O sujeito do anúncio pegou um bote, furou todo, tapou as aberturas com esse spray e depois colocou o barco no rio, entrou nele e saiu remando. Exultei: mas isso é maravilhoso!
Agora, estou esperando chegar aqui em casa o meu spray ultravedador e a minha supermangueira.
O telemarketing me ama.