Neymar é, em 2018, na Copa da Rússia, o que Ronaldinho foi em 2006, na Copa da Alemanha: o astro-rei, o melhor do time, aquele de quem se espera o inesperado.
Naquele ano, Ronaldinho foi uma decepção rotunda. Os jogos da Copa iam se passando e ele só "dava tapa" na bola. Onde estavam os arranques vertiginosos em direção ao gol? Onde estavam os dribles de palmo e meio de largura? Onde estava a magia?
Uma tarde, consegui uma exclusiva com ele. Entrei no terreno proibido do vestiário da Seleção e o entrevistei em um canto. Fiz exatamente as perguntas acima, resumidas numa única:
— Quando é que tu vais partir para cima deles?
Ele entendeu. Mas tergiversou:
— Tenho que jogar para a equipe…
Insisti:
— O mundo inteiro está esperando que teu jogo apareça.
Ele não mudou o discurso:
— A equipe é mais importante.
Que conversa era aquela? Ronaldinho, que era um jogador raro, fez uma Copa comum.
Neymar, neste primeiro jogo da Copa russa, não comprometeu por ter ousadia de menos como Ronaldinho na Copa alemã. Comprometeu por ter ousadia demais. Neymar comportou-se como o fominha clássico. Numa pelada, seria um jogador insuportável. Ele tenta o drible em TODOS os lances de que participa, em qualquer lugar, em qualquer circunstância. Pode estar cercado por quatro inimigos, pode estar no campo de defesa, pode ter um colega mais bem colocado. Não interessa. Neymar parte para a jogada pessoal. Neste jogo contra a Suíça, ele prejudicou o time, desperdiçou contra-ataques, facilitou o trabalho da defesa adversária.
Debaixo de seus cachos recentemente pintados de loiro, Neymar não passou de um ponta-esquerda antigo, rapidinho, ciscadorzinho, pequeninho. Ronaldinho só falava na equipe e se esqueceu de que devia ser protagonista. Neymar só pensou em ser protagonista e se esqueceu de que joga numa equipe.
Miranda, o meigo
Miranda sofreu um empurrãozinho no lance do gol da Suíça, verdade. Mas ele só foi deslocado porque se posicionou mal. Miranda estava na frente do jogador que deveria marcar. Ou seja: ele não o enxergava, enquanto a bola vinha do escanteio. Zuber, que deu o testaço para o gol, poderia ter corrido para qualquer outro ponto da área, que Miranda não o perseguiria — ninguém pode perseguir o que não vê.
Na bola parada, o zagueiro tem a pedregosa missão de prestar atenção em duas coisas ao mesmo tempo: na bola que vem e no jogador que está sob sua responsabilidade. Miranda ficou olhando apenas para a bola. Gol deles.
Não muito depois do gol, ainda no segundo tempo, Miranda se chocou com Seferovic e se desmanchou todo, caindo meigamente no gramado, como se seus músculos fossem feitos de creme Nívea. Por favor, o zagueiro da Seleção precisa comer mais feijão.
Medo da Alemanha
Antes do jogo do Brasil, no centro de imprensa da Arena Rostov, a maioria dos jornalistas torcia nitidamente pelo México, contra a Alemanha. Terminada a partida, houve aplausos para a vitória mexicana. Mas, depois, pensando nas oitavas de final, um rumor começou a se espalhar entre os brasileiros, que murmuravam:
— Pode ser que a gente tenha que voltar mais cedo para casa…
O hino curto
Como de praxe, em competições internacionais, o Hino Nacional Brasileiro foi abreviado, antes do jogo. Mas a torcida, no mesmo embalo da Copa de 2014, cantou o restante à capela. Os suíços no estádio ficaram olhando boquiabertos, sem entender nada. Felizmente, o canto dos brasileiros terminou antes de começar o hino da Suíça.
Patriotismo é mais bonito quando não se confunde com falta de educação.