Aos 27 minutos do segundo tempo de Brasil e Suíça, cerca de 2 mil pessoas levantaram aos mãos às margens do Guaíba, pedindo pênalti em Gabriel Jesus. O ato instantâneo de uma torcida revoltada com o árbitro mexicano Cesar Ramos foi praticamente a única ação coletiva da multidão que saiu de casa para assistir à estreia da Seleção na Copa do Mundo em meio à fan fest realizada nas proximidades da Usina do Gasômetro, na Capital.
Àquela altura da partida, ainda havia esperanças de que o Brasil ganhasse o jogo, mas a apatia vista em campo parece ter contaminado os torcedores. Pelo restante do jogo, as cornetas silenciaram, não havia gritos de incentivo ao time, tampouco entusiasmo nos rostos pintados de verde e amarelo.
Mas nem sempre foi assim. Antes da partida, tinha gente acreditando em goleada brasileira. A cabelereira Aline Nascimento, 35 anos, saiu de Canoas com o marido Alex, 38, e a filha Ana Maria, 12, especialmente para torcer pela Seleção na fan fest. Pouco depois das 14h, eles já estavam bem instalados em cadeiras de praia, chimarrão a postos e pé-de-moleque no colo, à espera da entrada em campo do escrete de Tite. Otimista, Aline previa um placar elástico:
— Vai ser 5 a 0 para o Brasil.
Perto dali, o casal William Moraes e Jennifer Rodrigues também esperava uma vitória. Vestindo camisetas da Seleção e bem acomodados na grama, os namorados deixaram cidades da Região Metropolitana no final da manhã — ele, morador de Gravataí; ela, de Cachoeirinha — somente para ver o jogo em um ambiente festivo.
— Eu aprendi a torcer com ele. E depois vamos ficar um pouco para a festa — conta Jennifer, que ganhou a camisa do Brasil de Dia dos Namorados.
A esperada animação surgiu logo cedo. Aos 19 minutos do primeiro tempo, quando Philippe Coutinho dominou a bola na quina da área e desferiu um chute indefensável no ângulo esquerdo do goleiro da Suíça, foi como se uma onda de eletricidade percorresse a avenida. As pessoas pulavam, gritavam, se abraçavam e se beijavam, por vezes tudo ao mesmo tempo, numa histeria generalizada. O estudante de medicina Joel Lucas se agarrou de tal modo na colega Giulia Righetti que ficou com a orelha colorida pela tinta verde e amarela que ela trazia estampada nas bochechas.
Para tristeza geral, a euforia foi efêmera. A partir do gol, a Seleção não mais empolgou. E quando, aos quatro minutos do segundo tempo, o meio-campista Zuber subiu sozinho em meio aos zagueiros brasileiros e cabeceou para o gol, empatando a partida, foi como se o vento gelado que soprava do Guaíba esfriasse os ânimos dos torcedores.
A partir dali, não haveria mais motivos para comemorar. A cada lance perdido pela Seleção no ataque, ouviam-se apenas uhs e ahs coletivos, o que na linguagem dos estádios é sinal de que a bola passou perto, mas não entrou. Entre muxoxos e lamentos, restou ao final a esperança de Aline Nascimento, a cabeleireira que queria um 5 a 0.
— Tô triste, mas não há de ser nada. Tem mais jogos pela frente e o próximo a gente ganha.