Na Rússia, a história sempre foi rude, implacável e cruel – como o próprio inverno daqui. Mas, mesmo no fulgor no verão, como agora, há cabeças que rolam como rola a bola e tronos manchados de sangue derrubados ou retomados ao sabor dos elementos – no caso, 11 elementos fardados, correndo atrás da redonda.
Nesses primeiros dias de Copa russa, Cristiano Ronaldo reluz feito um tzar dos tempos áureos, qual Pedro, o Grande, ao passo que Messi fez às vezes de Nicolau II, o derradeiro e desastrado soberano Romanov. Enquanto isso, a Alemanha…, bem a Alemanha, você sabe, está habituada a chafurdar na Rússia – e, dessa vez, não pode nem culpar o general inverno… Já o México teve seu dia de Argélia (que bateu a mesma Alemanha na Copa de 1982): jogou como sempre e ganhou como nunca.
Mas, claro, o que importa é o Brasil. E o fato novo é que o time quase levou um chocolate moral da Suíça, conhecida pela proverbial neutralidade (que, até ontem, era extensiva também ao futebol). O desempenho da Seleção de Tite deixou muita gente de cabelo em pé – em especial Marcelo e, claro, Neymar com aquele seu penacho estilizado. Ao que tudo indica, ele fez a cabeça na concentração – só parece ter esquecido ambas, concentração e cabeça, no cabeleireiro, ops, no vestiário.
De todo modo, não restam dúvidas de que a coroa de louros que por ora repousa na cabeça de Cristiano Ronaldo deu de dez no aplique de Neymar: ela reluz feito um diadema de Catarina, a Grande. Mas quem de fato acha que o a armada lusitana pode chegar a mares que nunca dantes navegou? Naquela caravela, Cristiano Ronaldo labuta feito um marinheiro só.
Quanto a França que, como a Alemanha, já saiu daqui com o rabo entre as pernas, enregelada no ruço dos campos de batalhas russos –, também não deu a impressão de que está de fato no páreo: ganhou com os suspensórios na mão da apenas aguerrida Austrália. Mas, claro, a peça está somente em seu preâmbulo e mesmo o primeiro ato ainda está longe do fim. Até as cortinas se fecharem, no dia 15 de julho, muitos papéis hão de mudar nesse jogo tão cheio de guerra e paz.
E se na Rússia a história tem se repetido, simultanemente como tragégia e como farsa, não é menos verdade que aqui o passado também já foi muitas vezes reescrito. Brasil, Alemanha e os argentários argentinos – que empataram com um time de pescadores islandeses – ainda podem, portanto, redesenhar as linhas tortas de suas estreias.
Mas que elas estão soando como falas saídas de uma farsa escrita pelo genial Nicolai Gogol, ah, isso estão.