Sabe aquela disputas marítimas de mais de 500 anos atrás, aquelas mesmas que nos descobriram. Pois quis a Copa do Mundo – e a Fifa – que as duas bandeiras medissem forças à beira do Mar Negro. Na versão futebol, foi o jogo de um baita time contra um fenômeno. No final, empate, Espanha 3x3 Portugal (mas esse pode substituir por Cristiano Ronaldo).
Portugal e Espanha abriram o Mundial em Sochi Fisht Stadium, cujo nome e formato homenageia uma das montanhas de cume esbranquiçado que forma a cadeira do Cáucaso. O palco era adequado. O Fisht, erguido para a Olimpíada de Inverno de 2014, está entre os mais suntuosos estádios do mundo. A sua adaptação para o futebol exigiu a abertura de um rasgo na cobertura e outros reparos que consumiram R$ 60 milhões.
Localizado no distrito de Adler, colado em Sochi, o estádio está dentro do parque olímpico. Que é também um parque público. Ali, o mundo se concentrou nesta noite russa de sexta-feira (15) para celebrar o futebol e esperar por Cristiano Ronaldo, Iniesta, Sérgio Ramos e Bernardo Silva, para citar os mais renomados. Havia família peruana orgulhosa pela volta a uma Copa depois de 36 anos, torcedores panamenhos registrando tudo em câmeras GoPro, camisas do Flamengo e até algumas norte-americanas perdidas no meio de milhares de portugueses e espanhóis vermelhos pelo sol e um tanto pra lá de Sochi com a cerveja à mão.
Muitos recém haviam vencido os detectores de metal da entrada do estádio quando Cristiano Ronaldo começou seu show. Aos três minutos, ele pedalou para cima de Nacho, seu companheiro de Real Madrid na área, avançou e roçou seu pé na canela do lateral. O juiz deu pênalti, e ele cobrou com classe: 1 a 0.
Os primeiros 15 minutos foram de Portugal. A Espanha ainda buscava seu norte depois da semana atribulada. Não bastasse isso, levou o gol no início. Mas a prova de que o trabalho de Juel Lopetégui era excelente apareceu a partir dos 20 minutos. Com o toque envolvente e movimentos encadeados, foi empurrando Portugal até fazer da vida de Cristiano Ronaldo no ataque uma solidão só. Aos 23, Portugal mostrou que, além de CR7, tem pouco. Ele arrancou do seu campo em contra-ataque e serviu Gonçalo Guedes com um toque sutil. Guedes se atrapalhou, perdeu a bola e o gol. Restou a Cristiano suspirar e olhar para o céu.
A Espanha empatou em uma jogada brasileira numa dispouta nordestina;. Diego Costa subiu com o braço aberto e acertou Pépe no pescoço. O árbitro italiano Gianluca Rocchi, que não é bobo de se metar numa peleia entre um sergipano e um alagoano bravos, mandou seguir. Ciego avançou, deu dois cortes em Fontes e empatou.
A Espanha tomou conta do jogo. Isco acertou a trave, Iniesta, depois de trangulação perdeu dentro da área. Domínio total. O primeiro tempo parecia definido quando Cristiano recebeu de Guedes, dominou e chutou. De Gea colocou para dentro. Um 2 a 1 injusto.
Os espanhóis voltaram para o segundo tempo com o mesmo domínio. Koke fazia a meia pela drieita, Iniesta flutuava um pouco mais à frente dele, Silva se insinuava pela direita e Isco sobrava na esquerda. Em questão de minutos, o jogo se resumiu ao campo de defesa de Portugal. O resultado foram dois gols em três minutos. Diego Costa, aos nove, aproveitou escorada de Busquets e empatou. Aos 12, Silva e Alba tramaram pela esquerda, William rebateu para o lado em que estava Nacho, livre. Ele deu uma chicoteada na bola. Ela fez uma curva, bateu no poste e entrou. Golaço e 3 a 2.
Depois disso, o jogo ficou assim|: a Espanha cotrolava, e Portugal investia na base da energia. Fernando Santos trocou sua linha de três meias, numa tentativa de levar algum sopro de futebol para Cristiano. A Espanha colocou Thiago no lugar de Iniesta, em busca de manter o controle do meio. Thiago joga fácil e com uma elegância de encher os olhos.
Aos 36, os espanhóis colocaram os portugueses na roda. Trocaram passes por mais de um minuto. Tudo acabou em chute fraco de Aspas. A esta altura, os torcedores acendiam as lanternas dos celulares e faziam uma festa ainda mais sensacional. Os russos, empolgados, cantavam alto “rassi-á, rassi-á”. A noite parecia completa. Só parecia. Aos 42 falta para Portugal. O estádio silenciou. As lanternas se apagaram. E Cristiano brilhou. Bateu com classe para o 3 a 3.
ESPANHA
De Gea; Nacho, Piqué, Sérgio Ramos e Jordi Alba; Busquets, Koke e Iniesta (Thiago Alcântara, 24’/2º); Silva (Vazquez, 41’/2°). Diego Costa (Aspas, 31’/2°) e Isco. Técnico: Fernando Hierro
PORTUGAL
Rui Patrício; Cédric, Pepe, Fonte e Raphael Guerreiro; William e João Moutinho; Bernardo Silva (Quaresma, 23’/2), Gonçalo Guedes (André Silva, 34’/2°) e Bruno Fernandes (João Mário, 22/2°); Ccristiano Ronaldo. Técnico: Fernando Santos
Gols: Cristiano Ronaldo (P), aos 4min e aos 45min, e Diego Costa, aos 24min, do primeiro tempo; Diego Costa, aos 9min, e Nacho, aos 12min, Cristiano Ronaldo, aos 42min, do segundo,
Cartões amarelos: Busquets (E)
Árbitro: Gianluca Rocchi, auxiliado por Elenito de Liberatore e Mauro Tonolini (trio italiano).
Local: Estádio Fisht, em Sochi.