No ano passado, uma professora de Santa Catarina levou um soco de um aluno e foi parar no hospital. Nós a entrevistamos, no Timeline Gaúcha, e, enquanto o fazíamos, perguntei a ela sobre postagens que havia feito nas redes sociais: a professora, que é petista, elogiava uma aluna que jogara um ovo em Bolsonaro. Ela ficou furiosa com meu questionamento, disse que atirar ovo em Bolsonaro era um ato revolucionário e que eu era fascista. Em seguida, desligou o telefone.
Depois da entrevista, inúmeros petistas enviaram e-mails criticando a mim e ao programa. Segundo eles, lançar ovos em Bolsonaro era, realmente, uma atitude revolucionária.
Bem.
Agora, estão jogando ovos em Lula. E não é mais revolucionário: é fascista.
Da mesma forma, é revolucionário fechar ruas de Porto Alegre quase todos os dias em nome de uma greve ou de um protesto contra Temer, Marchezan ou Sartori, mas fechar estradas para impedir a passagem da caravana de Lula é fascista.
E, quando mulheres do MST invadiram a gráfica do jornal O Globo armadas de facões, dias atrás, foi um ato revolucionário. Já os tiros contra o ônibus de Lula foram terrorismo de fascistas.
Note que começamos com ovos e já estamos nos tiros. É assim que caminha a humanidade.
Neste ponto, leia com calma o parágrafo abaixo, para compreender bem o que estou escrevendo. Se for preciso, releia. É o seguinte:
O fato de alguém ter jogado ovos em Bolsonaro não justifica que outros joguem ovos em Lula. O fato de alguém ter bloqueado ruas em nome de uma greve não justifica que outros bloqueiem estradas para impedir a caravana de um candidato, mesmo que ele seja condenado pela Justiça.
O fato de pessoas armadas com facões terem invadido um jornal não justifica que pessoas armadas com revólveres alvejem um ônibus com políticos dentro.
Estou enfatizando isso para que ninguém se confunda: não justifico as agressões à caravana de Lula pelo comportamento pregresso do PT em ações que infringiram a lei. Mas também não há justificativa para quaisquer ações que infrinjam a lei.
Você pode fazer manifestações contundentes dentro da legalidade. Houve muitas na história do país. Foram, inclusive, as mais importantes. As das Diretas Já, nos anos 1980. As do Fora Collor, nos anos 1990. E, as maiores de todas, as que pediram o impeachment de Dilma, em 2016. Nestas, num único dia, 6 milhões de brasileiros foram às ruas, algo inédito no Brasil e raríssimo no mundo. Talvez só a revolta de maio de 1968, em Paris, tenha reunido mais gente. Mesmo assim, os governistas diziam que aqueles milhões faziam parte da elite, imagine. Houve até quem contasse o número de negros nas manifestações (!).
Quer dizer: a minha manifestação é do bem, a sua é do mal; o ovo que atiro no seu candidato é democrático, o ovo que você atira no meu é fascista.
O Brasil é o país em que tudo pode. Todo mundo se sente injustiçado, e por isso todo mundo acha que tem direito a protestar como bem entender para corrigir a injustiça.
Está errado.
Numa democracia, o cidadão sabe que não pode fechar uma rua, não pode atirar ovos nos outros e, principalmente, sabe que não pode dar tiro em quem quer que seja ou no veículo de quem quer que seja. Numa democracia, a autoridade cumpre o seu papel, que é de reprimir e punir quem erra. E o cidadão aplaude. Porque sabe que o erro punido é o erro que dificilmente será repetido. Porque sabe que o governo eficiente é como o pai atento: ele não apenas dá quando é possível dar; ele cobra quando tem de ser cobrado.