Ainda em fevereiro, antes de os primeiros casos serem confirmados aqui, o novo coronavírus varria a Europa com espantosa velocidade. E o vírus viaja na carona de pessoas infectadas que saem de um continente para o outro.
No aeroporto Salgado Filho, desembarcavam todos os dias dezenas de passageiros vindos da Itália, França e Espanha. Em fevereiro mesmo, recebi o relato de uma dessas turistas:
"Passamos 20 dias na Itália, de norte a sul. Conheço várias pessoas que fizeram a mesma coisa. Não tenho sintomas, mas cheguei em Porto Alegre e não recebi nenhuma orientação, nada".
Questionadas à época sobre a possibilidade de submeter à quarentena ou, pelo menos, medir temperatura e monitorar essas pessoas, autoridades de saúde informaram que não havia condições. As pessoas continuaram chegando de fora sem nenhuma orientação sobre procedimentos, cuidados ou, até, recomendação para não saírem de casa.
O vírus ainda era uma incógnita para todos, mas quem faz a vigilância sanitária deveria ter implementado um cuidado mais rigoroso, monitorando os passageiros que chegavam de fora. Afinal, era por ali que a doença iria chegar. E chegou.
Existe um trinômio importante que serve de base para as bem sucedidas políticas de combate ao coronavírus no mundo: testar, isolar e rastrear.
De uma maneira geral, o Rio Grande do Sul conseguiu aumentar o número de testes. O isolamento, bem, o isolamento social é uma realidade na maior parte do Estado. Mas, e o rastreamento? A verdade é que não houve até agora nenhuma iniciativa para monitoramento em massa da população gaúcha.
É compreensível que diante da pandemia, que ainda não chegou no seu pico por aqui, os esforços estejam concentrados no aumento na demanda por estrutura de saúde e nas medidas para evitar o contágio. Mas não há dúvida de que rastrear a população será parte do "novo normal".
Na Alemanha, o governo acaba de lançar um app que consegue identificar pessoas infectadas. É o próprio portador de covid-19 quem informa sua condição no aplicativo. E se alguém se aproxima, o app alerta.
No Canadá, o governo também lançou ferramenta parecida. Um outro aplicativo mais amplo já está usado na Itália. O Immuni, concebido pelo governo italiano, faz o cruzamento de informações de pessoas testadas positivo para o coronavírus com aqueles que tiveram contato com essa pessoa. Daí, sabendo disso, imediatamente podem seguir um protocolo para evitar a proliferação. É hora de recuperar o tempo perdido!